O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou nesta segunda-feira (1) que vai retomar os diálogos e negociações com os Estados Unidos nesta quarta-feira. O último encontro entre os governos dos dois países foi realizado em 9 de abril, no México. Segundo o presidente, os EUA sabem quem vai ganhar as eleições venezuelanas e, por isso, precisam negociar com o país.
“Recebi a proposta do Governo dos Estados Unidos para restabelecer as conversas e o diálogo direto. Depois de pensar durante dois meses, eu aceitei. Na próxima quarta se reiniciam as conversas com o governo dos EUA para que sejam cumpridos os acordos assinados no Catar e para reestabelecer os termos do diálogo com respeito e sem manipulação”, afirmou em seu programa Con Maduro..
O acordo a que Maduro se refere foi assinado entre os dois países no final do ano passado em Doha, capital do Catar. Washington liberou o empresário Alex Saab e, em troca, Caracas anunciou a libertação de 10 estadunidenses presos no país. As conversas foram mediadas pelo governo catari. As duas partes também falaram sobre a derrubada das sanções e questões migratórias.
O presidente da Venezuela anunciou que o chefe da Comissão de Diálogo Nacional será o presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez. Ele estará acompanhado do governador do estado de Miranda, Héctor Rodríguez Castro. Maduro afirmou querer resolver “este conflito estéril com o Norte” e disse ser “um homem de diálogo”.
A relação entre os dois países é tensa há pelo menos uma década. Os Estados Unidos começaram a impor sanções contra a economia venezuelana em 2013. O objetivo era pressionar o governo da Venezuela e tentar forçar a saída do chavismo do poder. Em 2017 os estadunidenses subiram o volume e passaram a limitar a venda de petróleo para outros países. O produto é a principal fonte de receitas do governo venezuelano há 1 século.
As medidas levaram o país sul-americano a uma grave crise econômica nos últimos anos. Em outubro de 2023, os EUA emitiram licenças para que a Venezuela pudesse vender seu petróleo no mercado internacional. A decisão do governo estadunidense foi tomada depois que o governo venezuelano assinou um acordo em Barbados com parte da oposição para definir as regras iniciais para a eleição de 2024.
O documento determinava que as eleições da Venezuela deveriam ser realizadas no segundo semestre de 2024, que haveria uma revisão das inabilitações e que o pleito contaria com a observação de organizações internacionais. A ultraliberal María Corina Machado era uma das personagens que estava inabilitada por "inconsistência e ocultação" de ativos na declaração de bens que ela deveria ter apresentado à Controladoria-Geral da República (CGR) enquanto foi deputada na Assembleia Nacional (2011-2014).
Ela pediu a análise de sua pena em dezembro de 2023 e a Justiça venezuelana emitiu a decisão no final de janeiro de 2024. Por conta disso, os EUA passaram a ameaçar o retorno das sanções e a queda das licenças. A principal delas, a licença 44, venceu em abril de 2024 e foi substituída pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos pela licença 44A, que determina que as empresas que mantêm negócios com a estatal petroleira PDVSA deveriam pedir autorização da Agência de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) dos EUA para retomar os negócios. Na prática, é uma forma de tornar o processo de negociação mais burocrático com a estatal venezuelana.
O último encontro entre os dois países foi realizado em 9 de abril na Cidade do México. O objetivo foi discutir a interferência estadunidense nas questões internas, sendo a principal delas, as eleições de 2024. Na ocasião, o Ministério das Relações Exteriores venezuelano voltou a dizer que rejeita a interferência norte-americana e afirmou ter repassado aos representantes estadunidenses o acordo firmado em Doha sobre a suspensão das sanções e questões migratórias.
Caracas disse durante o encontro que os EUA não estão cumprindo com o que foi acordado e afirmou que os representantes venezuelanos foram “enfáticos” ao rejeitar ingerências “nos assuntos internos”.
A corrida eleitoral do país tem 10 candidatos. O presidente Nicolás Maduro tenta a reeleição para um terceiro mandato. Ele enfrentará nove candidatos de oposição, sendo o principal deles o ex-embaixador Edmundo González Urrutia. Ele é apoiado por María Corina Machado, que está inabilitada por 15 anos pela Justiça venezuelana e não poderá concorrer.
Em junho, 8 dos 10 candidatos assinaram um acordo para respeitar o resultado das eleições. Edmundo se recusou a participar e não assinou o documento. Além dele, Enrique Márquez, do partido Centrados, não assinou.
Edição: Rodrigo Durão Coelho