O programa Papo na Laje desta quinta-feira (27) aborda o método de alfabetização cubano adotado pela cidade de Maricá, na região metropolitana do Rio de Janeiro. A apresentadora Dani Câmara conversa com Paula França, coordenadora pedagógica da Jornada de Alfabetização “Sim, Eu Posso!” em Maricá, e Joana de Jesus, educanda da primeira turma no município.
A dona de casa, de 67 anos, contou orgulhosa sobre aprender a ler e escrever com a filha, sua maior incentivadora nos estudos e uma das alfabetizadoras do programa. Assim como ela, mais de mil formandos completaram a jornada de alfabetização.
"Eu não tive oportunidade de aprender a ler quando era criança e minha filha foi a minha professora. Para mim foi muito importante. No começo eu não queria, mas ela insistiu, eu consegui ir e gostei. Sei ler e escrever até demais", disse a bem humorada dona Joana que planeja continuar os estudos até a universidade.
O analfabetismo no Brasil diminuiu na última década, de 9,6% para 7% entre pessoas acima de 15 anos. Porém, os dados por raça revelam que a desigualdade persiste. Segundo o Censo Demográfico de 2022, a taxa de analfabetismo de pretos (10%) e pardos (8,8%) é mais que o dobro dos brancos (4,3%).
Para Paula França, o cenário ainda é preocupante, mas iniciativas de educação voltadas para esse público dialogam com um direito que foi historicamente negado, sobretudo para a população negra e os povos originários. A taxa de analfabetismo entre a população indígena foi a mais alta registrada no país, de 16,6%.
"É muito importante que mesmo tardiamente as pessoas negras tenham acesso à leitura, escrita e uma perspectiva de continuar estudando, mudar de profissão. Todo processo escravista também estava associado com a negação do direito ao conhecimento", comentou Paula.
Autoestima
“Sim, Eu Posso!” é um método de alfabetização desenvolvido pelo Instituto Pedagógico Latino-Americano e Caribenho (IPLAC) na década de 1990 em Cuba, pela educadora cubana Leonela Relys. A metodologia foi aplicada em mais de 30 países, em três continentes, a partir de um processo de identificação cultural.
No Brasil, o método é usado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) desde 2006 para erradicar o analfabetismo em áreas de reforma agrária. No estado do Rio, já ocorreu em assentamentos e acampamentos do MST, mas foi implementado pela primeira vez em parceria com o poder público em Maricá em 2023. Paula França ressaltou como a alfabetização restaura a autoestima dos educandos ao longo do curso.
"As pessoas que não são alfabetizadas, cresceram sem essa oportunidade, são muito tímidas, tem muita vergonha, baixa estima. Isso vai mudando e elas se veem querendo continuar, algumas querem aprender a bíblia, outras a tirar a carteira de motorista. Outras querem ir além, fazer o ensino fundamental, ensino médio, uma universidade", completa a coordenadora do método em Maricá.
O “Sim, Eu Posso!” é uma Jornada de Alfabetização para jovens a partir de 15 anos, adultos e idosos. A iniciativa está inserida no programa de políticas públicas do município e é realizada pela Prefeitura de Maricá, em parceria com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, através da Secretaria de Economia Solidária (ECOSOL) e o Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá (ICTIM).
Assista
Papo na Laje
O Papo na Laje é um programa de TV que valoriza o protagonismo da juventude nas favelas e periferias do Rio de Janeiro. A cada novo episódio a apresentadora Dani Câmara recebe dois convidados que compartilham experiências sobre temas de interesse da juventude.
A terceira temporada do programa conta com a parceria da Incubadora de Inovação Social em Cultura de Maricá, um projeto desenvolvido pelo Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICTIM), junto à Secretaria Municipal de Cultura e ao Instituto Brasil Social (IBS).
Nas primeiras gravações, jovens e representantes dos seus bairros falaram sobre diferentes projetos locais, como o Horta Agroecológica, Moeda Social, Políticas Públicas de Audiovisual para a Juventude e Ciência, Tecnologia e Inovação em Maricá.
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Clívia Mesquita