cidades sustentáveis

Mulheres catadoras e sem terra se reúnem em Belo Horizonte para debater cuidado com o planeta

Roda de conversa celebra o Dia Mundial do Meio Ambiente e aponta caminhos para a preservação

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Debate reuniu mulheres ligadas às associações de catadoras e catadores de Belo Horizonte, no Armazém do Campo - Ágatha Azevedo

Com o objetivo de valorizar o trabalho das mulheres catadoras na erradicação da pobreza, o Armazém do Campo de Belo Horizonte (MG) recebeu, na terça-feira (4), as associações de catadoras e catadores de Belo Horizonte e Região Metropolitana para debater a construção de cidades sustentáveis e a organização para o trabalho digno como forma de combate às mudanças climáticas.

Além da discussão política, a atividade também contou com um almoço coletivo feito pela Cozinha Solidária Cidona, uma das tantas articuladas em todo o país com o objetivo de viabilizar alimentação saudável através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). A ação faz parte das atividades do Mãos Solidárias, que conecta as ações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) aos trabalhadores da cidade. 

“A luta das catadoras e do MST é permeada por ancestralidade, memória e esperança”, afirmou Bernardo Amaral, coordenador da cozinha. “A jornada por um mundo mais justo e sustentável exige a união de diferentes movimentos sociais e o fortalecimento das pontes entre quem cuida da vida dia após dia”, destacou. 

Além da militância do do MST, participaram da atividade mulheres ligadas ao Movimento Nacional dos Catadores Recicláveis (MNCR) e de diversas associações, cooperativas e redes, como a Unicatadores, Redesol e Rede Cataunidos. 

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Trabalho e renda

A atuação dos catadores e catadoras em Minas Gerais foi historicamente tratada de forma degradante, sendo realizada de forma insegura em lixões e sob o risco de contaminação por diversas doenças. E foi a partir da organização política que esse trabalho passou a ser visto como algo fundamental para o equilíbrio e o cuidado com o planeta. 

Segundo Madá Duarte Lima, a formalização do trabalho foi um passo importante para que a vida dos trabalhadores começasse a melhorar. “Os catadores precisavam ter reconhecimento enquanto classe trabalhadora, e hoje nós somos classificados como profissionais”, celebrou.

Para Dona Geralda, referência no trabalho com a reciclagem, as associações cumpriram um papel essencial na visibilidade do trabalho dos catadores e catadoras. “Antes ninguém enxergava a gente, a gente era lixo. Ninguém me via e hoje eu vejo o mundo. Hoje em dia, a associação ajuda na esperança, na cidadania e na nossa autoestima”, afirmou.

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A pauta dos catadores se organizou a partir da necessidade de quem trabalhava com a reciclagem. “Naquela época a coleta seletiva não era uma realidade e o trabalho nas ruas não rendia muita renda", aponta Madá. Ela afirma que foi preciso uma crise econômica para que propostas coletivas de trabalho aparecessem.

Da organização política à construção da vida com acesso à saúde, alimentação e direitos, o tema da produção de alimentos também se tornou um ponto de ação das trabalhadoras e dos trabalhadores da reciclagem. 

“A gente quer o básico e é o básico que a gente não tem”, afirmou Jennifer Thais. “A maioria são mulheres, mães-solo e com filhos e eu vi ali a minha mãe”, relata a catadora. 

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Para o MST, a relação entre a reciclagem e a reforma agrária é indissociável, já que ambos são fundamentais para a preservação do meio ambiente e da vida. 

“Aproveitamos o Dia Mundial do Meio Ambiente para lembrar que, nesse contexto de crise climática, é urgente a valorização do trabalho das mulheres catadoras. Essas mulheres são fundamentais para o avanço de cidades mais sustentáveis e seu trabalho precisa ser valorizado”, defendeu Guê Oliveira, do Coletivo de Cultura do MST. 

Priscila Araújo, coordenadora do Armazém do Campo, defende que a coletividade é a melhor forma de promover uma mudança social na vida dos trabalhadores sem terra e das catadoras de materiais recicláveis. “O cooperativismo é o que nos une e organiza o povo. É a partir da ocupação dos nossos espaços que a gente se organiza e constrói”, pontuou.  

“Nós começamos lutando pela terra, mas também lutamos pelo direito das mulheres, das crianças, contra as violências, contra os agrotóxicos, pela educação”, afirmou Guê.

Fonte: BdF Minas Gerais

Edição: Leonardo Fernandes