Haiti

20 anos da Minustah: Alba Movimentos pede justiça por crimes cometidos pelo Exército brasileiro contra haitianos

Missão desastrosa da ONU, chefiada pelo Brasil, deixou rastro de violências no Haiti que perduram até hoje

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Tropas da Minustah permaneceram no Haiti entre 2004 e 2017.
Tropas da Minustah permaneceram no Haiti entre 2004 e 2017. - Wilcker Morais

Nesta mesma data, 20 anos atrás, iniciava-se uma das mais trágicas intervenções militares da história, a Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti). Chefiada pelo governo brasileiro, a missão da ONU deixou um imenso rastro de crimes cometidos contra a população haitiana. 

Para marcar a data, o capítulo brasileiro da Alba Movimentos (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América) divulgou uma nota onde denuncia violências cometidas pela Minustah, mas também expressa solidariedade com o povo haitiano, que ainda busca por justiça e responsabilização de órgãos internacionais.   

“O que as missões militares deixaram no Haiti é um histórico de violência e violações de direitos humanos, com mais de 30 mil mortos, mais de 2 mil vítimas de abusos sexuais — a maioria mulheres e crianças”, comenta a nota.

A missão brasileira se encerrou em 2017. Durante 13 anos, além dos casos de violência, os soldados brasileiros também são apontados como causadores de chagas que ainda persistem na sociedade haitiana, como a cólera, que fez mais de 800 mil casos no país. 

De outubro de 2022 a meados de 2023, cerca de 59 mil pessoas foram diagnosticadas com a doença. Neste período, ao menos 800 pessoas morreram, apontam dados do Ministério da Saúde haitiano. 

“Exigimos que as Nações Unidas paguem pelos crimes cometidos pela MINUSTAH, reparação já. E que os soldados brasileiros sejam julgados pelos crimes cometidos ao povo haitiano”, segue a nota da Alba Movimentos. 

O documento também destaca as novas investidas de organismos internacionais contra os haitianos. Desde a renúncia do primeiro-ministro Ariel Henry, em 12 de março, ondas de violência comandadas por grupos armados tomaram o país. Para encerrar a violência, a sugestão acatada pelo Conselho de Segurança da ONU é o envio de tropas policiais do Quênia, que atuariam na segurança do país.

Organizações haitianas têm tentado impedir que uma nova intervenção aconteça. Segundo a Alba Movimentos, “o povo do Haiti [deve ter] reconhecido seu direito de construir sua própria estrutura política e econômica de forma soberana, digna e justa, e para criar sistemas de educação e saúde que possam atender às necessidades reais do povo”. 

“Que todas as forças progressistas do mundo se oponham a qualquer tentativa de invasão militar do Haiti”, completa o documento.

Alba Movimentos

Criada em oposição à Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), projeto de bloco econômico para a região proposto pelos Estados Unidos no começo dos anos 2000, a Alba Movimentos reúne mais de 400 organizações populares da América Latina e Caribe.

Confira os movimentos do capítulo brasileiro da Alba que assinam o documento:

Conselho Pastoral dos Pescadores 
Central dos Movimentos Populares
Marcha Mundial das Mulheres
Movimento Brasil Popular
Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto 
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra 
Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos
Movimento pela Soberania Popular na Mineração
Rede de Médicos e Médicas Populares
Conselho Pastoral dos Pescadores 
Central dos Movimentos Populares
Levante Popular da Juventude
Marcha Mundial das Mulheres
Movimento dos Atingidos por Barragens 
Movimento Brasil Popular

Edição: José Eduardo Bernardes