A condenação do republicano Donald Trump, ex-presidente e atual candidato nos Estados Unidos, deve polarizar ainda mais a disputa eleitoral com o democrata Joe Biden. O efeito eleitoral da medida judicial contra Trump, porém, ainda é incerto. Essa é a avaliação do cientista político Giorgio Romano, professor adjunto da Universidade Federal do ABC (UFABC).
"Está muito difícil dizer qual exatamente é o impacto sobre as eleições. Vai aumentar a polarização, mas o que realmente determina as eleições, continua sendo outras questões. A percepção sobre a economia vai pesar mais do que esse julgamento, por incrível que pareça", disse ao Brasil de Fato.
O júri popular composto por 12 cidadãos de Nova York decidiu, de forma unânime, na quinta-feira (30), pela condenação do ex-presidente em todas as 34 acusações feitas contra ele. A decisão é histórica, por ser a primeira vez que um ex-presidente estadunidense foi acusado e condenado criminalmente.
O júri o considerou culpado de falsificar registros contábeis para encobrir um pagamento de US$ 130 mil (R$ 675 mil, na cotação atual) e impedir que a ex-atriz de filmes adultos Stormy Daniels tornasse público um suposto encontro sexual em 2006 – que ele nega – que poderia ter prejudicado sua campanha presidencial em 2016.
Romano avalia que o resultado por unanimidade entre os jurados é surpreendente, devido às polarizações em torno da campanha eleitoral, mas aponta que Trump deve utilizar essa condenação para impulsionar sua campanha, como vítima do sistema judiciário. "Isso tudo vai para depois das eleições e ele vai evidentemente utilizar isso com o ataque que ele já começou a fazer à Constituição."
"Sou um prisioneiro político!", afirmou Trump após o anúncio da sentença, usando o veredito para reforçar, junto a seus apoiadores, a teoria da conspiração segundo a qual existe um "Estado profundo" que busca restringir sua liberdade.
E vem mais
Além do julgamento em Nova York, o ex-presidente enfrenta outros três processos penais - com acusações mais graves - relacionados com tentativas de reverter o resultado da eleição que perdeu para Joe Biden em 2020 e o tratamento de documentos confidenciais que levou para casa depois de deixar a Casa Branca.
Biden, por outro lado, tentou evitar que os problemas judiciais de Trump se tornassem assunto de campanha e, como presidente, evita dar munição aos republicanos que o acusam de intervir no sistema judicial.
A campanha do democrata afirmou em comunicado que a decisão contra o ex-presidente mostra que "ninguém está acima da lei". Acrescentou, no entanto, que o foco agora deve estar nas eleições, porque "a ameaça que Trump representa para a democracia nunca foi tão grande".
Nesta sexta-feira o presidente democrata terá diversas oportunidades para falar à imprensa, ao longo de uma agenda intensa que inclui um diálogo com o primeiro-ministro belga e uma celebração com a equipe de futebol americano campeã do Super Bowl, o Kansas City Chiefs.
Uma pesquisa da Reuter/Ipsos, de agosto de 2023, aponta que metade dos eleitores republicanos não votaria em Donald Trump caso o ex-presidente dos Estados Unidos fosse condenado por algum crime.
*Com AFP
Edição: Rodrigo Durão Coelho