As iniciativas de solidariedade aos atingidos começam a tomar outros rumos depois das ações emergenciais de salvamento e proteção da vida. Reconstruir é a palavra de ordem da vez. E uma das reconstruções mais desafiadoras será a dos territórios da agricultura camponesa e familiar. Os pequenos agricultores atingidos perderam plantios, animais de criação, maquinário, insumos, sementes, casas, galpões e infraestrutura de acesso e escoamento de produção. Sem dúvida alguma é um dos setores em situação de maior vulnerabilidade e que corre os maiores riscos de ser invisibilizado após o retorno das águas aos seus leitos.
Tendo esse fator em mente, voluntários do Movimento dos Pequenos Agricultores e Pequenas Agricultoras (MPA), Comissão Pastoral da Terra (CPT) e Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) se reuniram na última segunda-feira (27) em Ijuí, no Viveiro São Francisco de Assis, para produzir 5 mil mudas de batata-doce que serão compartilhadas com os companheiros de classe atingidos pelas enchentes nos territórios rurais. A atividade integra a Missão Sementes de Solidariedade, coordenada pelo Instituto Cultural Padre Josmo e Cáritas, que conta ainda com a participação de mais 16 organizações e movimentos sociais.
As mudas de batata-doce ficam agora sob os cuidados da equipe do viveiro, que também vai produzir mudas de árvores frutíferas para a missão, que serão levadas até as áreas degradadas pela enchente. A previsão é de que até a primavera estejam prontas para o período ideal do plantio e possam ajudar a devolver aos agricultores camponeses e familiares a sua capacidade de autossustentação, tanto para alimentação própria e comercialização, quanto para alimentação de animais e multiplicação para novos plantios. O viveiro São Francisco de Assis disponibilizou as próprias matrizes para o preparo das novas mudas, totalizando sete espécies de batata-doce para produção agroecológica, sem necessidade de utilização de insumos químicos ou qualquer tipo de veneno no cultivo.
"O mutirão é uma prática tradicional do campesinato, onde grupos de pequenos agricultores próximos se reúnem em uma unidade produtiva para dar conta de realizar de forma conjunta os trabalhos mais pesados nos roçados, nas colheitas e nas carneanças", explica Pedro Kunkel, guardião de sementes vinculado à Casa Mãe Terra, de Panambi.
"Esse mutirão, porém, tem alguns elementos a mais que o faz ser especial: a esperança, a fé e o espírito de luta e resistência", afirmou. Os participantes do mutirão deslocaram-se das cidades de Panambi e Ajuricaba até Ijuí, onde outro grupo os aguardava para ação.
Representante da juventude camponesa da base do MPA, Elian Andreoli, explicou a motivação do grupo. “Com toda aquela lama, toda aquela água, com aquele solo que foi destruído, eles não tem mais a possibilidade de preparar a plantação lá. Então a gente precisa ajudar aqui, onde a gente tem espaço para plantar, para depois que as coisas se acalmarem levar até quem foi atingido uma mudinha pronta para ajudar nos novos plantios."
A agente da CPT Rosane Tenroller lembrou que a ação traz consigo elementos que vão além de trabalho conjunto. “É a simbologia de reprodução da vida, de ser solidários, de pensar que é possível recriar e reestabelecer a vida nesses lugares afetados e trazer um pouco mais de alegria e de esperança para essas famílias."
Os integrantes explicaram ainda que a ação foi inspirada pela encíclica Laudato Si, do Papa Francisco, visualizando em cada atingido um irmão, em cada atingida uma irmã, e na natureza sua volta à Casa Comum. Novas ações devem ser realizadas nas próximas semanas. A Cáritas, por sua vez, renova o pedido a quem puder se somar à Missão Sementes de Solidariedade. Estão sendo chamados voluntários para as equipes de campo, além de doações para custear as despesas das atividades que tem o objetivo de chegar até os espaços da agricultura familiar e camponesa atingidas em torno de 150 municípios do Rio Grande do Sul.
Para fazer uma doação financeira: PIX: 33654419.0010-07 (CNPJ da Cáritas).
Para se inscrever como voluntário, acesse o formulário neste link.
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Katia Marko