Solidariedade

Sindicato no RS faz campanha para ajudar jornalistas afetados pela enchente

Cobertura dos eventos foi intensa e produtiva, muitos até trabalharam sem condição e com casas e bens perdidos

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Jornalistas do Brasil de Fato RS também tiveram casas alagadas na zona sul de Porto Alegre e Canoas - Foto: Clara Aguiar

Jornalistas gaúchos se viraram muito bem na cobertura dos grandes eventos climáticos que atingiram o Rio Grande do Sul. Andaram para todos os lados. Enfrentaram alagamentos, barro, lama. Andaram de jetski, barco, moto, a pé, de galocha, de botas. Enfim, fizeram bem, cumpriram legal a sua missão. Sejam eles de jornais, rádios, tevês convencionais ou dos inúmeros sites e portais de notícias. O trabalho foi insano, meritório, não tinham horário e nem tarefas inconclusas.

Para uma grande parte da sociedade, o trabalho de jornalista é cheio de glamour, belezas, viagens, salários e assim por diante. Engano puro. Claro que hoje a conscientização sobre a profissão é outra. Outra parte da sociedade, inflamada por uma massa ideológica direitista, produz xingamentos, agressões e violência contra determinados grupos de comunicação, o que afeta seriamente os seus profissionais.

Uma questão que se observou durante esta cobertura é que, em raras ocasiões, ou quase nenhuma, os jornalistas falaram dos seus dramas e das suas situações com as enchentes. Muitos – não foram poucos, como muita gente imagina – que saíram de casa correndo, com água pelo pescoço, que perderam tudo, seus bens materiais e suas memórias afetivas. Dos grandes veículos aos pequenos, aos portais, muita gente perdeu tudo e hoje está endividado, correndo atrás dos prejuízos, fazendo compras de reposição de seus bens imediatos, remontar casas, pedir socorro aqui e ali. E até trabalharam sofrendo todo este drama.

É uma barra pesadíssima. Como exemplo, é bom citar que o piso salarial dos jornalistas em Porto Alegre é de R$ 3.242,60 e os repórteres do Interior de R$ 2.761,00. Claro que ganham um pouco mais em função de outros penduricalhos, como horas extras. Nem todo mundo fica nesta faixa de proventos. Há os comunicadores, editores, chefes disso ou daquilo que estão em outra esfera remuneratória. Mas quem está na linha de frente, os repórteres, ganha pouco, dinheiro que mal dá para comprar um refrigerador e um fogão se forem gastar todo o seu salário para voltar a viver com dignidade.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SindJoRS) recebeu uma série de pedidos dos seus filiados. Não foram poucos. E, dentro das condições, está fazendo uma campanha de arrecadação financeira solidária com a intenção de auxiliar os profissionais a recomeçar a reorganizar as vidas e a sua história com um mínimo de satisfação. Muitos jornalistas moram em zonas que alagaram violentamente, do Lami ao Humaitá, de Canoas a São Leopoldo, e mesmo em zonas de risco pelo interior afora. Hoje estão mal, sem ânimo, mas buscando coragem para recomeçar.

SOS – Jornalista Salva Jornalista

A campanha do sindicato é “SOS – Jornalista Salva Jornalista” e tem o apoio da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). A diretoria comandada por Laura Santos Rocha garante que os apelos de ajuda têm surgido de profissionais em diferentes municípios gaúchos. “Nesta tragédia climática, a necessidade de ajuda humanitária se soma a de apoio na carreira profissional. Ampliamos nosso raio de ação”, diz.

"Enfrentamos dificuldades conhecidas no trabalho jornalístico, incluindo vínculo empregatício fragilizado e direitos trabalhistas nem sempre garantidos, o que torna o recomeço ainda mais desafiador. Recebemos relatos dramáticos de quem, após as enchentes, acordou não apenas sem seus bens materiais, mas, também, e principalmente, com a ausência de suas memórias afetivas conquistadas duramente no decorrer de uma vida toda e que foram levadas pelas águas. Portanto, compreendemos que, um gesto concreto, por meio de uma quantia indutora para o custeio de despesas emergenciais, pode, minimamente, expressar a nossa união como alento para quem terá de reiniciar”, aponta Laura.

Outra preocupação do sindicato é que os profissionais seriamente afetados pelo drama das águas enfrentem problemas pessoais e não consigam desenvolver as atividades rotineiras. “Precisaremos fazer acompanhamentos constantes para que essas pessoas tenham o verdadeiro acolhimento necessário e importante após qualquer evento pós-traumático, como esse que estamos vivenciando, com o apoio de profissionais das áreas da psiquiatria e da psicologia”, informa matéria do SindJoRS.

O sindicato admite que, até agora, fez pouco, só ajudou 12 profissionais em dificuldades para poderem minimizar as necessidades iniciais, mas quer fazer muito mais. Por isso apela por união. Admite que os baixos salários da categoria não permitem uma colaboração maciça e volumosa. “Mas vamos intensificar nossa campanha para diminuirmos os danos e mudar a triste realidade que muitos jornalistas vivem”, garante o SindJoRS.

Para quem quiser contribuir via PIX: [email protected] 

O sindicato está fazendo um levantamento, por meio de formulário on-line, para saber como profissionais estão neste período de calamidade. Nos casos de necessidade de auxílio, essas informações permitirão que a ajuda chegue o mais rapidamente possível.

* Eugênio Bortolon é jornalista.

** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Katia Marko