TRABALHO

Dossiê da Unicamp aponta como uberização prejudica saúde de motoboys

Silvia Santiago, da Diretoria Executiva de Direitos Humanos da universidade, comenta resultados da pesquisa

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Motociclistas que mais sofrem com problemas de saúde são jovens que trabalham por aplicativo - Jaqueline Deister/Brasil de Fato

Um estudo da Universidade de Campinas (Unicamp) expôs dados alarmantes sobre a situação de motociclistas que trabalham fazendo entregas de mercadorias por aplicativos. As informações estão no chamado Dossiê das Violações dos Direitos Humanos no Trabalho Uberizado, divulgado na edição mensal do Jornal da Unicamp

A pesquisa foi feita em 2023 pela Diretoria Executiva de Direitos Humanos (DEDH) da universidade com 200 motofretistas, explica a diretora Silvia Santiago. Ela falou com o Central do Brasil nesta quinta-feira (2). Um estudo já havia sido feito em 2021, mas esse foi maior e mostra como a uberização impacta a saúde dos trabalhadores.

"Foi uma pesquisa mais detalhada, uma oportunidade por conta da força-tarefa de Covid da Unicamp ter contato com esses trabalhadores. E eu fiquei muito impressionada com a força, a potência, a resiliência, a capacidade de trabalho dessas pessoas, desses trabalhadores. São trabalhadores muito relevantes e a gente já tinha uma ideia, vendo pela cidade, o trabalho deles, que era um trabalho muito estressante, muito demandante fisicamente, que nos ajuda muito enquanto sociedade, a tocar nossa vida, nos ajuda demais – e em outras áreas também do próprio comércio, indústria, tudo. Mas a gente não sabia com detalhe o que resultava", conta Silvia.

Os motoboys que mais sofrem com problemas de saúde trabalham por aplicativo, segundo o dossiê. Dos 200 entrevistados, 90% eram do sexo masculino e quase 60% se autodeclararam negros.

"São jovens e que, ao mesmo tempo sendo jovens, já apresentam medidas de pressão arterial preocupantes, tem dificuldade para a hidratação por conta da correria, se alimentam não adequadamente", comenta a diretora da DEDH da Unicamp sobre o perfil.

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"Sem contar a questão muito preocupante pra gente que foi dos acidentes: 65% desses trabalhadores já sofreram algum acidente. E quando eles falam em acidente, não são pequenas quedas, alguma ralada, um susto no trânsito, não. São acidentes que os afastam da atividade por algum tempo, por alguns dias. Então é uma atividade que nos preocupa, está em vias de discussão sobre a sua regulamentação e essas questões são importantes serem levadas em conta nesse momento", segue Silvia Santiago.

Ela defende que os motofretistas só podem cuidar melhor da saúde também com ajuda das empresas que os contratam e do poder público, com regulamentação do tipo de serviço.

"Nesse sentido, talvez o governo, o Ministério do Trabalho, o Ministério da Saúde, o Ministério de Direitos Humanos, tenham um papel de fazer uma mediação entre os trabalhadores, a sociedade brasileira que cuida deles quando eles se acidentam ou adoecem, e os serviços, principalmente os serviços de saúde. O que a gente tem proposto é pelo menos rever essa forma de trabalho. Seria de uma cogestão, de as empresas, os trabalhadores, que possam sentar e pensar qual seria o ritmo de atividade que não expusesse tanto a saúde desses trabalhadores", argumenta.

A entrevista completa, feita pela apresentadora Luana Ibelli, está disponível na edição desta quinta-feira (2) do Central do Brasil, que está disponível no canal do Brasil de Fato no YouTube.

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O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.
 

Edição: Nicolau Soares