Nesta semana, o Ministério da Saúde informou que o Brasil já tem mais de 3,3 mil casos de febre do Oropouche, doença viral transmitida por mosquito, que teve o primeiro registro em todo o mundo somente na década de 1950.
Mais de 70% das ocorrências em território nacional este ano foram registradas no estado do Amazonas. A região vive um surto que contabiliza mais de 2,5 mil infecções. Embora seja mais comum no Norte, pacientes já foram identificados em 24 unidades da federação.
Os outros estados que mais têm casos são Rondônia (574), Acre (108), Bahia (31), Pará (29) e Roraima (18). Segundo o Ministério da Saúde, as detecções fora da região Norte ocorreram em indivíduos em viagem, ou seja, têm origem na área amazônica do país.
Em entrevista ao Brasil de Fato, o Chefe do Laboratório de Arbovírus e Vírus Hemorrágicos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e coordenador do Núcleo de Vigilância de Vírus Emergentes, Reemergentes ou Negligenciados do Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), Felipe Gomes Naveca, afirma que a distribuição do vírus no país deve acender um alerta, principalmente para a vigilância em saúde.
“É importante notar que nós estamos vivendo uma situação epidêmica, principalmente na região Norte. O que chamou bastante a atenção nesse ano foi a dimensão desse surto. Os casos não estão concentrados em um estado. Nós temos vários estados da região Norte com casos confirmados. Chama a atenção essa distribuição deste ano.”
O pesquisador ressalta ainda que os números podem estar subnotificados porque há pessoas que apresentam sintomas leves e até assintomáticas, que não procuram o sistema de saúde. Além de febre, a doença pode causar dor de cabeça, dor no corpo e dores abdominais.
Que mosquito é esse?
Assim como a dengue, a zika e a chikungunya, a febre do oropouche é transmitida por picada de mosquito, mas não pelo Aedes aegypti. O vetor, neste caso, é o Culicoides paraensis, chamado popularmente de maruim, meruim, mosquito pólvora ou mosquito do mangue. Ele mede de um a três milímetros, ou seja, menor que o aedes.
Outra característica que difere as duas espécies são os locais de preferência. O Culicoides busca lugares úmidos, com muita matéria orgânica em decomposição, como folhas, galhos, cascas, frutas e verduras. As recomendações para evitar a picada são uso de roupas que cubram o corpo e de repelentes. A população também deve evitar áreas com grande presença do inseto.
O Brasil tem um teste específico para detectar a doença, desenvolvido pela Fiocruz. Ele está disponível em todo o país. Felipe Gomes Naveca destaca que a descentralização dos exames permite uma visão mais ampla da circulação do vírus e elementos mais consistentes para o controle.
“Por exemplo, São Paulo e Paraná detectaram casos importados do Amazonas e do Acre, que chegaram com os sintomas desses lugares, justamente porque existe esse método de diagnóstico. Recentemente tivemos relatos na Bahia e no Piauí, que estão em investigação.”
O professor completa que é difícil prever o ritmo de crescimento que a doença pode alcançar nas próximas semanas e meses, por isso é tão importante a continuidade das pesquisas e da vigilância.
“Se esses casos são autóctones, ou seja, pessoas que não saíram do estado e foram infectadas no estado, ou se elas têm um vínculo epidemiológico de ter viajado para a área endêmica, ainda não temos como afirmar. Mas não seria totalmente uma surpresa, porque temos o vetor espalhado pelo país inteiro. Nesse momento, o mais importante é estarmos atentos=. Só conseguimos combater aquilo que nós conhecemos.”
Edição: Matheus Alves de Almeida