O empresário Elon Musk e as pessoas que atuam com ele na gestão da rede social X (antigo Twitter) querem se colocar acima da lei e das constituições de diferentes países. A avaliação é do sociólogo e doutor em ciência política Sérgio Amadeu, especialista em tecnologia da informação.
Amadeu disse que o recente episódio em que o empresário partiu para o ataque contra o Supremo Tribunal Federal (STF), mirando especialmente o ministro Alexandre de Moraes, é mais um capítulo de uma série de iniciativas de Musk e de outros empresários de extrema direita do chamado Vale do Silício (região que abriga sedes de grandes empresas de tecnologia), com o financiamento de grupos nos Estados Unidos e no mundo.
"A ideia de liberdade deles é a ideia do poder do mais forte. A liberdade, para a extrema direita, se confunde com a ideia de 'força'. Você é livre se você puder fazer o que você quer de acordo com sua força. E na democracia a liberdade não é isso. Nós temos que respeitar a liberdade dos outros, o direito dos outros. Temos que garantir que as maiorias possam ser respeitadas", disse Amadeu em entrevista ao Central do Brasil, programa do Brasil de Fato em parceria com a rede TVT.
Musk acusa o Judiciário brasileiro, na figura de Moraes, de cometer "censura" ao exigir dados de contas que espalham desinformação ou discurso de ódio nas redes sociais e suspender algumas delas. Entretanto, a solicitação dessas informações é prerrogativa do Judiciário (não só no Brasil) em meio a investigações. Em outros países, inclusive nos Estados Unidos, até mesmo a polícia faz essas solicitações, e nem por isso há críticas por parte de Musk e de pessoas próximas.
Usando como base a Constituição, Amadeu lembrou que "não permitimos propaganda nazista; não permitimos que as pessoas sejam humilhadas nas redes digitais; que as mulheres sejam perseguidas por misóginos... Tudo isso constitui discriminação e crime. Só que, na visão do Elon Musk, da extrema direita norteamericana, isso não tem o menor problema".
A nova investida de Musk contra a democracia brasileira ganhou força desde o último sábado, depois que ele publicou, no próprio X, vídeos do jornalista estadunidense Michael Shellenberger com críticas a Alexandre de Moraes, ao Supremo e ao Judiciário brasileiro. Desde então, o empresário vem sucessivamente "dobrando a aposta", com apoio em perfis de parlamentares e influenciadores brasileiros de extrema direita.
Para Sérgio Amadeu, há risco de a discussão extrapolar a bolha bolsonarista. Ele lembra que a estratégia da extrema direita, globalmente, é criar um "caos informacional", substituindo informações e fatos pela defesa de valores reacionários. Ele lembrou que os ataques bolsonaristas à Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023 foram coordenados pelas redes sociais.
"Isso foi divulgado, alardeado, foi articulado pelas redes. E, portanto, isso é uma ação passível de punição, pela nossa Constituição e nossas leis. Isso não é censura. Censura é o que eles fazem na rede social. O que todas essas plataformas têm? Suas próprias regras. Elas bloqueiam visualização; os algoritmos impedem que você possa ter, na verdade, seus posts divulgados, e você muitas vezes não fica sabendo", concluiu.
Edição: Thalita Pires