O ex-vice-presidente do Equador, Jorge Glas, foi levado para um centro de detenção de segurança máxima. Ele estava refugiado desde dezembro do ano passado na embaixada do México em Quito, capital equatoriana.
Na sexta-feira passada (5), policiais invadiram o prédio para deter Glas. Em nota, o gabinete do presidente do país, Daniel Noboa, informou que o ex-vice seria "colocado à disposição das autoridades competentes".
Após ter ficado detido em uma unidade de flagrantes na própria capital, ele foi transferido para a cidade portuária de Guayaquil. Lá, foi levado para o Centro de Privação de Liberdade nº3, também conhecido como La Roca (a pedra).
A invasão da embaixada foi duramente condenada por políticos e movimentos sociais de diversas partes do mundo. Segundo o chefe do Ministério das Relações Exteriores e Assuntos Políticos do México em Quito, Roberto Canseco, os policiais o agrediram durante a ação.
"Me jogaram no chão. Tentei impedi-los fisicamente de entrar, mas como criminosos eles invadiram a embaixada mexicana no Equador. Isso não é possível, isso não pode ser, é uma loucura", disse Canseco à imprensa equatoriana.
'Ditadura, barbárie e fascismo': políticos e movimentos reagem à prisão de Jorge Glas
Em declarações feitas ao Brasil de Fato, o professor de sociologia política Franklin Ramírez, da Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales, classificou a situação como gravíssima e sem precedentes na região.
"Nem mesmo nas piores ditaduras do Cone Sul, nem (Augusto) Pinochet (ditador do Chile de 1973 a 1990), ou (Jorge Rafael) Videla (ditador da Argentina entre 1976 e 1981) se atreveram a ir tão longe. É uma agressão, uma ocupação de território estrangeiro, um sequestro de um exilado político."
Segundo o professor, a ação tem potencial para causar perturbações na política regional. "É um ato que assume toda a gravidade política internacional dos direitos humanos do direito internacional. O Equador sofrerá consequências muito graves com esta situação."
Ele também mencionou a possibilidade de interferência ou influência estadunidense na situação. "Não acho que Noboa teria feito algo assim sem permissão ou, pelo menos, endosso tácito dos Estados Unidos. Desta forma observa-se que há uma manobra para alterar e desordenar a política regional."
O presidente do México reagiu imediatamente e rompeu relações diplomáticas com o Equador. López Obrador publicou em rede social que a medida foi uma "violação flagrante do direito internacional e da soberania do México".
Neste domingo (7), o chefe de política exterior da União Europeia, Josep Borrell, também condenou a ação. Segundo ele, o governo equatoriano descumpriu a Convenção de Viena de 1961, que determina que embaixadas são território inviolável.
Condeno la violación de las instalaciones de la Embajada de México en Quito en un claro incumplimiento de la Convención de Viena de 1961.
— Josep Borrell Fontelles (@JosepBorrellF) April 7, 2024
Hago una llamada a respetar el derecho internacional diplomático.
Pelas redes sociais, o especialista em política internacional Oswaldo Moreno Ramírez, que dirige a rede Consultores Políticos Independentes da América Latina, afirmou que o governo equatoriano terá que mobilizar toda a sua frente diplomática para "defender o indefensável" frente a organismos internacionais.
Ele lembrou que a invasão pode trazer, inclusive, consequências econômicas, já que o México é o país com mais investimentos no Equador e que mais tem equatorianos em trânsito no mundo.
"O erro já foi cometido, mas infelizmente, é como um avião. O piloto, com ou sem razão, entrou em uma tempestade, abrindo uma frente totalmente desnecessária. Mas acontece que estamos todos no avião".
Para o jornalista equatoriano Luis Dávila Loor, a atitude do governo do Equador pode levar Daniel Noboa a perder apoio político e a se prejudicar eleitoralmente. "Ele conseguiu fazer com que pessoas que o apoiavam se afastassem. O Equador está nas mãos de um autoritário que pensa com o fígado".
Já o cientista político Pablo Medina Pérez, da Universidad San Francisco de Quito, fez um compilado de todas as manifestações das nações do continente americano sobre o caso. Nas publicações fica claro que a ação do governo do Equador foi condenada em uníssono. "Raramente a América concordou tanto em algo. O Equador os uniu para que condenem a ele".
Edição: Raquel Setz