O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) rejeitou nesta sexta-feira uma resolução apresentada pelos Estados Unidos que pedia um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza. Ao vetar a proposta a Rússia a classificou de "espetáculo hipócrita" que garantiria a impunidade de Israel.
O embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzia, disse que os EUA não estavam fazendo nada para conter o massacre israelense e agora propõe um cessar-fogo após "Gaza ser virtualmente varrida da face da Terra".
"Observamos um espetáculo hipócrita. A proposta dos EUA é excessivamente politizada, com o único intuito de reverberar junto a seus eleitores", disse Nebenzia.
Ele disse que a resolução "garantiria a impunidade de Israel, cujos crimes não são nem mencionados no texto". O embaixador disse ainda que a proposta daria sinal verde para os israelenses atacarem a cidade palestina de Rafah, onde mais de 1,5 milhão de palestinos buscaram refúgio vindos de outras partes de Gaza.
"Ficção"
A China, outro membro permanente do Conselho de Segurança (CS) exerceu seu direito de veto mas não fez comentários. Outro país que votou contra, a Argélia, justificou a posição dizendo que o texto não abordava o sofrimento imenso palestino.
"Os que acreditam que Israel, como poder de ocupação, escolherá cumprir com suas obrigações internacionais estão errados e precisam abandonar essa ficção", disse Amar Bendja, embaixador argelino para a ONU.
O embaixador russo disse ainda que que vários membros não permanentes do Conselho de Segurança prepararam uma resolução alternativa, que classificou de documento equilibrado, e disse que não havia razão para os membros não apoiá-la.
Os Estados Unidos, principal aliado de Israel, haviam barrado outras três resoluções do CS pedindo o fim do massacre em Gaza, inclusive uma proposta pela Argélia em fevereiro.
A resolução rejeitada nesta sexta pedia "cessar-fogo imediato e sustentado" com duração de aproximadamente seis semanas, que protegeria os civis e permitiria a entrega de assistência humanitária.
Contexto
O atual massacre israelense na Faixa de Gaza - ou operação militar como chama Israel - começou em outubro do ano passado, mas as condições no território palestino já eram consideradas "sufocantes" pela ONU antes disso. O bloqueio israelense de 17 anos - para obrigar o Hamas, partido que ganhou as eleições palestinas em 2006, a abdicar do poder - geraram taxas de desemprego de 45% e insegurança alimentar que atingia 64% da população. A ONU calculava que mais de 80% dos moradores de Gaza dependiam de ajuda externa para sobreviver.
Em 7 de outubro, integrantes do Hamas ingressaram em Israel e realizaram o ataque mais violento já sofrido pelo país, deixando cerca de 1,2 mil mortos e capturando 240 reféns. A resposta do governo Netanyahu foi considerada desproporcional pela comunidade internacional. Bombardeios diários no que é considerado um dos territórios mais densamente povoados do mundo vêm causando a morte de dezenas de milhares de palestinos e destruindo toda a infraestrutura de Gaza.
O número de vítimas fatais em meados de março ultrapassava 31 mil palestinos - cerca de 70% delas mulheres e crianças -, com mais de 8 mil pessoas desaparecidas debaixo dos escombros. Foram destruídos 35% dos prédios e praticamente todos os mais de dois milhões de habitantes foram forçados a deixar suas casas. No outro território palestino ocupado, a Cisjordânia, a violência ilegal praticada por colonos israelenses é diária, com mais de 500 mortos. Desde o início do conflito, milhares de palestinos foram presos e o governo anunciou que outros milhares vão ser detidos este ano.
A ONU alerta para o desastre humanitário, acusando Israel de usar a fome coletiva como arma de guerra e a possibilidade real de que centenas de milhares de palestinos venham a morrer por falta de alimentos.
Edição: Matheus Alves de Almeida