“A credibilidade do atual sistema internacional de governança está debaixo dos escombros de Gaza”, afirmou o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, ao chegar em Ramallah, na Cisjordânia, neste domingo (17). Em reunião com o chanceler palestino Riyad Al Maliki, foi selado o acordo de que o Brasil será um dos líderes da campanha para que a Palestina seja admitida como membro pleno das Nações Unidas.
Desde 2012 a Palestina pode participar dos debates da Assembleia Geral da ONU, mas não tem direito a voto. Para o Itamaraty, que defende a solução já ratificada pela ONU, de dois estados como caminho para a solução do conflito colonial na região, a admissão da Palestina nas Nações Unidas é passo relevante. Para que aconteça, no entanto, é preciso que os Estados Unidos não usem seu poder de veto.
Também neste domingo, Vieira participou de uma cerimônia que deu ao presidente Lula (PT) o título de membro honorário do Conselho de Curadores da Fundação Yasser Arafat.
O chanceler conversou, por cerca de 20 minutos, com o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas. Lhe deu de presente uma camisa da seleção brasileira autografada pelo atacante Rodrygo, que joga hoje no Real Madrid.
“Vou dizer de forma alta e clara”, declarou Mauro Vieira em Ramallah: “é ilegal e imoral retirar o acesso das pessoas à comida e à água. É ilegal e imoral atacar operações humanitárias e quem está buscando ajuda. É ilegal e imoral impedir os doentes e feridos de assistência de saúde. É ilegal e imoral destruir hospitais, locais sagrados, cemitérios e abrigos.”
O governo brasileiro também anunciou que seguirá enviando contribuição financeira para a agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA). Mas a medida brasileira tem mais efeito simbólico do que prática, já que a quantia é de US$ 75 mil por ano (cerca de R$ 375 mil).
Depois que Israel acusou 12 funcionários da agência de terem participado dos ataques do Hamas de 7 de outubro do ano passado, países financiadores suspenderam seus repasses à organização que envia ajuda humanitária para Gaza. Entre eles, os Estados Unidos. Os 12 trabalhadores foram demitidos e estão sendo investigados.
Israel fora do roteiro
Esta é a primeira viagem do ministro Mauro Vieira ao Oriente Médio e o roteiro de cinco dias inclui Jordânia, Cisjordânia, Líbano e Arábia Saudita. De acordo com o Itamaraty, a não ida à Tel Aviv, que costuma ser de praxe por um equilíbrio diplomático, não tem a ver com as recentes relações estremecidas entre os dois países.
O Ministério das Relações Exteriores afirmou que a viagem de Vieira é feita com base em convites de governos e que estava planejada antes da crise recente. O governo de Netanyahu não teria convidado o chanceler.
A rusga diplomática eclodiu após o presidente Lula (PT) comparar o massacre cometido por Israel na Faixa de Gaza – que já matou ao menos 31 mil pessoas, a maioria mulheres e crianças, desde outubro do ano passado – com o extermínio de judeus comandado pela Alemanha nazista. Em resposta, Benjamin Netanyahu disse que o brasileiro tinha cruzado “uma linha vermelha”.
O embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer, foi então convidado pelo chanceler israelense Israel Katz a acompanhá-lo numa visita ao museu do holocausto. Ali, falando em hebraico (idioma não compreendido por Meyer), Katz anunciou que, até que se retrate, Lula é “persona non grata” em Israel. O Itamaraty trouxe Meyer de volta ao Brasil.
Edição: Rodrigo Durão Coelho