O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes prorrogou por mais seis meses o inquérito que investiga o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seus principais ex-ministros e ex-auxiliares do período que ocupou a Presidência da República em ao menos três frentes: a tentativa de golpe de Estado, a fraude nos cartões de vacinação e o desvio de dinheiro de presentes recebidos por Bolsonaro de autoridades estrangeiras enquanto chefe de Estado.
A decisão atende pedido feito pelo delegado Fabio Shor, responsável pela condução do chamado "inquérito das milícias digitais", que originalmente foi aberto para investigar grupos que atuavam nas redes difundido fake news e promovendo ações para atentar contra o Estado Democrático de Direito. Com o avanço das investigações, a PF foi juntando neste inquérito diferentes episódios que estariam relacionados ao contexto da atuação dos grupos bolsonaristas radicais e dos aliados mais próximos do ex-presidente que teriam tentado dar um golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023.
"Considerando a necessidade de prosseguimento das investigações, com a realização das diligências ainda pendentes, nos termos previstos no art. 230-C, § 1º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, prorrogo por mais 180 dias a presente investigação", diz a decisão do ministro, datada de 13 de março e tornada pública nesta sexta-feira (15).
PF deve finalizar frentes no primeiro semestre
Das três frentes de investigação, a mais avançada é a que apura a fraude no cartão de vacinação de Bolsonaro, que viajou para os EUA no fim de 2022, ocasião em que era exigido ter o comprovante de vacina contra a covid-19 para entrar no país. A expectativa é que a PF conclua essa frente ainda em março. Foi no âmbito dessa investigação que o ex-auxiliar de Bolsonaro, Mauro Cid, foi preso em maio do ano passado pela Polícia Federal, que aponta que ele teria atuado junto com outras pessoas para fraudar o sistema de vacinação e registrar que Bolsonaro teria sido imunizado contra covid-19.
Após passar quatro meses detido, Cid fez uma colaboração premiada com a Polícia Federal e deixou a prisão. Desde então, cumpre uma série de restrições, como a proibição de deixar sua residência à noite e aos finais de semana.
Ele foi ouvido novamente pela PF na segunda-feira (11) na investigação sobre a tentativa de golpe de Estado. Apesar de a Polícia Federal ter ouvido vários ex-ministros e militares de alta patente, incluindo o ex-comandante do Exército no governo Bolsonaro, general Freire Gomes, este caso ainda deve ser o que mais deve demorar para ser concluído.
A expectativa é de que a PF realize novas diligências a partir das informações colhidas nos depoimentos dos militares, que foram tornados públicos nesta sexta e implicam o ex-presidente diretamente em tratativas golpistas.
Por fim, há ainda a investigação sobre o desvio de dinheiro de presentes recebidos por Bolsonaro quando estava na Presidência da República. Neste caso, os investigadores ainda dependem de algumas diligências feitas em parceria com o FBI, pois o esquema inlcuiu a venda de parte dos itens nos Estados Unidos.
Após a conclusão da investigação da Polícia Federal, caberá a Procuradoria-Geral da República analisar os casos e decidir se denuncia ou não o ex-presidente e seus auxiliares. O ex-presidente sempre negou o envolvimento em irregularidades e ficou em silêncio quando compareceu para depor à Polícia Federal sobre tentativa de golpe de Estado no mês passado.
Edição: Nicolau Soares