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FMI recomenda a Milei proteger mais pobres da Argentina em meio a reformas ultraliberais

Em evento ultraconservador em Washington, Milei classificou a justiça social como uma "aberração"

Brasil de Fato | São Paulo (SP) | |
Foto divulgada pela Presidência da Argentina mostra o encontro de Milei com Donald Trump no sábado, 24 de fevereiro - Assessoria de Imprensa da Presidência da Argentina AFP/

O Fundo Monetário Internacional (FMI) recomendou que o presidente Javier Milei proteja os setores sociais mais pobres da Argentina, enquanto seu governo avança com reformas econômicas ultraliberais e busca reduzir o déficit fiscal a zero.

"As medidas concretas adotadas para cumprir com a âncora fiscal devem ser calibradas para garantir que a assistência social continue sendo prestada e que o peso não recaia totalmente sobre os grupos mais pobres", declarou a subdiretora do FMI, Gita Gopinath, em uma entrevista ao jornal La Nación publicada neste domingo (25).

No sábado (24), o presidente argentino participou de um evento ultraconservador em Washington, onde criticou justamente a ideia de justiça social, que classificou como uma “aberração”. Ao discursar após o ex-presidente estadunidense Donald Trump na Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), Milei afirmou que a “ justiça social é violenta e injusta, uma aberração".

“Não apoiem a regulação, não apoiem a ideia de falhas de mercado, não permitam o avanço da agenda assassina do aborto e não se deixem levar pelo canto da sereia da justiça social", disse o presidente argentino, que discursou após o ex-presidente estadunidense Donald Trump na Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC). Milei ainda declarou seu apoio à candidatura de Trump para as eleições deste ano e tirou fotos com o ex-presidente.


Milei após disrcurso em congresso ultraconservador em Washington (EUA), no sábado 24 de fevereiro / Mandel NGAN / AFP

A Argentina mantém com o FMI um programa de crédito de US$ 45 bilhões (cerca de R$ 219 bilhões) e Gita Gopinath visitou o país na quinta e sexta-feira para avaliar pessoalmente seu progresso e se reunir com Milei e membros de seu governo, além de economistas, sindicalistas e representantes de organizações sociais que demandam mais ajuda estatal. A funcionária do FMI considerou importante garantir que o valor real das aposentadorias e da assistência social seja mantido e que “acompanhem o ritmo da inflação".

O governo Milei enfrentou nos dois meses e meio de gestão uma desvalorização de 50% da moeda, a completa liberalização de preços, desregulamentações e cortes drásticos para alcançar o déficit fiscal zero ainda este ano, como principal medida para conter uma inflação de 254,2% e reverter uma pobreza de mais de 50%.

O FMI, também apontou como um  aspecto crítico as taxas de pobreza infantil de mais de 55%, que classificou como “extremamente preocupantes”.” É o futuro do país. É importante garantir que essa porcentagem diminua muito e poder investir mais em educação".

"Terceira crise da dívida"

Em um documento publicado no dia 14 de fevereiro, a ex-presidente argentina Cristina Kirchner fez críticas à política econômica de Javier Milei, em que responsabiliza o atual ministro da Economia, Luis Caputo, pelo retorno do FMI ao país, durante sua gestão como secretário de finanças durante o governo liberal de Maurício Macri. “Ante a impossibilidade de fazer frente aos vencimentos da dívida contraída, o governo recorreu ao prestador de última instância e voltou a trazer o FMI como auditor da economia Argentina”, diz Cristina na carta que aponta esse como o início da terceira crise da dívida argentina.

“Mais que um empréstimo, foi uma fraude monumental. Nem um único desses 45 bilhões de dólares permaneceu na Argentina”, diz o texto. A ex-presidenta aponta que essa operação de crédito foi um acordo inédito, o maior de toda a história do FMI, “equivalente a 60% de sua capacidade de empréstimo, desembolsando 45 bilhões de dólares que foram utilizados, em sua maioria, para a fuga de capitais especulativos que haviam entrado na Argentina até aquele mesmo ano”.

*Com AFP

Edição: Rodrigo Durão Coelho