Indígenas do povo Pataxó Hã-hã-hãe bloquearam a BR-101, no sul da Bahia, para protestar contra o assassinato de Maria de Fátima Muniz, conhecida como Nega Pataxó.
O bloqueio foi feito no final da tarde de quinta-feira (8) no acesso ao município de Camacan. O trânsito ficou impedido por cerca de duas horas. As informações são do Deriva Jornalismo, que acompanha os mais recentes conflitos por terra no estado.
Nega Pataxó foi morta no dia 21 de janeiro durante uma ação convocada pelo grupo ruralista "Invasão Zero", que desfaz sem ordem judicial ocupações feitas por indígenas e sem terra e é suspeito de ser uma milícia rural.
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Sobreviventes do conflito que resultou na morte da liderança Pataxó Hã-hã-hãe dizem que uma multidão de fazendeiros agrediu e atirou contra indígenas, durante a retomada de uma fazenda em Potiraguá (BA), sob a inação da Polícia Militar (PM), que presenciou tudo.
No protesto desta sexta-feira (9), os manifestantes pediram por justiça para Nega Muniz e para outros indígenas que morreram nos últimos meses em conflitos envolvendo fazendeiros ou a Polícia Militar. Policiais à paisana acompanharam a manifestação na rodovia, que transcorreu sem incidentes.
Segundo os indígenas, inúmeras mortes seguem sem investigação e responsabilização dos autores. Duas pessoas estão presas pelo assassinato de Nega Pataxó: o filho de um fazendeiro e um policial militar da reserva. A perícia comprovou que o tiro fatal partiu do jovem detido, que tem 19 anos.
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Um dia após o assassinato de Nega Pataxó, a mesma rodovia foi fechada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), que se solidarizou aos Pataxó Hã-hã-hãe, e também foi vítima de ações recentes do "Invasão Zero".
O "Invasão Zero" admite a participação na ação ruralista que terminou com a morte de Nega Pataxó, mas nega que seus membros tenham praticado atos ilegais. O grupo diz ainda que não defende ações violentas e que os detidos pelo assassinato da liderança indígena não integram o movimento.
O governo da Bahia já afirmou que trata o caso com prioridade e prometeu investigação imediata e rigorosa. Após a morte de Nega Pataxó, a PM do estado criou um batalhão específico para tratar de conflitos agrários, mas não esclareceu se houve participação de policiais no assassinato.
Edição: Nicolau Soares