O Cacique Nailton Muniz Pataxó afirmou que sua irmã, Maria de Fátima Muniz, morreu baleada para protegê-lo do tiro de um integrante de milícia rural.
O assassinato da indígena, conhecida como Nega Pataxó, ocorreu no dia 21 de janeiro, em um ataque de ruralistas no território Caramuru-Catarina Paraguassu, em Potiraguá (BA).
Hospitalizado em recuperação de um ferimento a bala, Nailton disse que ele seria alvo do primeiro disparo. "Nega atravessou na minha frente e aí já foi baleada", contou em entrevista exclusiva.
'Tinha polícia sem farda participando de tudo' 😔
— Brasil de Fato (@brasildefato) January 31, 2024
No dia 21, Nega Pataxó foi assassinada e o cacique Nailton, seu irmão, foi baleado em uma investida da milícia rural no município de Potiraguá, no território indígena Caramuru-Catarina Paraguassu, no sul da Bahia. Nos últimos… pic.twitter.com/ATHUmKmipw
"Aí eu fui para pegar ela para não deixar ela cair. E aí eu fui baleado também. Aí caímos juntos, segurando um no outro", relatou.
A perícia comprovou que o tiro fatal partiu da arma do filho de um fazendeiro, de 19 anos, que foi detido no local. Um policial militar aposentado também foi preso em meio ao conflito.
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"E eu preocupado e pedindo ao comandante (da PM) que ele tinha condições de evitar que acontecesse um massacre", relatou o cacique.
Emocionado, Nailton descreveu também os últimos momentos de Nega Pataxó, enquanto estavam a caminho do hospital.
"Minha irmã sentada junto de mim, com a mão na barriga, falou 'meu fogo está curto. não estou conseguindo respirar. Eu sei que eu não vou resistir'. Foram as últimas palavras que ela deu", contou Nailton, na cama do hospital.
"Invasão Zero é milícia e PM é cúmplice"
Segundo Nailton, fazendeiros ligados ao movimento "Invasão Zero" participaram do ataque e agiram como "milícia". Esse grupo de fazendeiros se organiza em grupos virtuais para desfazer ocupações de terra sem o aval da Justiça, mas apoiados por associações empresariais, do agronegócio e políticos.
"A maior parte dos integrantes do Invasão Zero são milicianos. Tinha polícia sem farda participando de tudo. Então está claro que é a polícia que está fazendo o trabalho de pistolagem para defender interesses particulares de fazendeiros no campo", disse Nailton Pataxó.
O cacique disse também que policiais militares invadiram casas de indígenas nos dias anteriores e roubaram celulares. O objetivo, segundo ele, seria evitar que as vítimas do ataque ruralista, que teria sido planejado com antecedência, registrassem imagens da violência.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), o ataque, que também deixou indígenas feridos, partiu do "Invasão Zero", que é investigado pela Polícia Civil por suspeita de ser uma milícia rural.
Outro lado
Luiz Uaquim, fundador e líder do "Invasão Zero", disse que o grupo está à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos que se fizerem necessários e reiterou que não compactua com qualquer tipo de violência.
"É uma acusação [feita pelo cacique Nailton] séria, especialmente vinda após uma invasão feita com homens armados, encapuzados. Desta maneira, entendemos a dor da perda da família, mas o momento é de ponderação e aguardar as investigações em curso", declarou Luiz Uaquim.
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A respeito das declarações do cacique Nailton, a SSP-BA disse ao Brasil de Fato que determinou à Polícia Civil prioridade na investigação da ocorrência na região Sudoeste da Bahia.
"A SSP-BA lembra ainda que dois homens foram presos em flagrante e autuados por homicídio e tentativa de homicídio. Armas e munições foram apreendidas", declarou.
Edição: Nicolau Soares