CENTRAL DO BRASIL

Possível confirmação da reeleição de Bukele em El Salvador preocupa organizações internacionais

Saiba qual o cenário no país e como ficou o processo de apuração dos votos; presidente já comemorou vitória

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Jornais estamparam reeleição autodeclarada por Nayib Bukele no dia seguinte ao pleito - Marvin Recinos/AFP

Após o presidente Nayib Bukele se autodeclarar reeleito mesmo antes dos resultados oficiais das eleições em El Salvador que aconteceram no último domingo (4), a Justiça Eleitoral do país interrompeu a contagem de votos. Pelo resultado preliminar do Tribunal Superior Eleitoral, com 70,25% dos votos processados, Bukele havia recebido mais de 1,6 milhão de votos, mais de seis vezes a somatória dos votos nos adversários em segundo e terceiro lugar.

O TSE de El Salvador não conseguiu concluir a apuração por causa de erros na transmissão dos dados e retomou a contagem nesta terça-feira (6), com os relatórios das seções que faltaram. No caso do Legislativo, a presidente da Corte, Dora Esmeralda Martínez, comunicou que todos os pacotes eleitorais seriam abertos para contabilização de "cédula a cédula". 

A possível reeleição de Nayib Bukele preocupa organizações internacionais, que criticam o regime de estado de exceção decretado pelo presidente em março de 2022 e prorrogado desde então. O editor de Internacional do Brasil de Fato, Lucas Estanislau, explicou o cenário em El Salvador no Central do Brasil.

"A aprovação do estado de exceção em 2022 vem sendo constantemente renovada. Ela foi uma medida que era pra durar apenas um mês. Na prática, [a medida] permite que a polícia faça prisões sem ordem judicial, o que acabou gerando um encarceramento em massa. Desde que foi aprovado esse estado de exceção, mais de 70 mil pessoas já foram presas e muitas delas, segundo movimentos populares e organizações de direitos humanos, são inocentes", informa Estanislau. 

Isso aumenta a preocupação com outras medidas extremas que podem ser aplicadas por Bukele em El Salvador. Mas não só: ações parecidas podem ser colocadas em prática na América Latina, segundo o editor, que conversou com a advogada salvadorenha Ruth Alfaro, especialista em direito eleitoral. Estanislau resume o perfil do presidente populista de direita.

"O presidente Bukele quando assume em 2019 se apresenta como um 'outsider' da política, uma figura que não é do campo hegemônico ali dos maiores partidos e já promete mão dura para reformar e reformular o país, de acordo com sua visão política. Em 2020, ele ordenou uma invasão ao Congresso de El Salvador pelas Forças Armadas. É um elemento que assustou e chocou bastante não só a política salvadorenha, mas todos aqui na América Latina. E no ano seguinte, passou no Congresso já dominado pelo seu partido a possibilidade de intervir na Suprema Corte. Então, hoje a Corte máxima do sistema judiciário do país é praticamente composta por pessoas indicadas pelo Legislativo, que é dominado pelo partido do presidente", detalha.

"Ele assume essa narrativa autoritária, se classifica como um ditador cool [palavra em inglês que significa legal e descolado]. Então, há um temor na política salvadorenha tanto pelos partidos de oposição quanto por parte de organizações de direitos humanos de que haverá uma escalada na postura autoritária nesse modelo hegemônico ali do Executivo perante os outros poderes da República Salvadorenha", conclui.

Lucas conversou com a apresentadora Luana Ibelli na edição desta terça-feira (6) do Central do Brasilno canal do Brasil de Fato no YouTube.

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Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.

Edição: Thalita Pires