CENTRAL DO BRASIL

Se progressista vencer no Irã, mudanças devem ser mais nos costumes do que na política externa, diz especialista

Andrew Traumann diz que candidatura moderada foi concessão do regime para evitar alto número de abstenções

Brasil de Fato | São Paulo (SP) | |
Segundo turno no Irã: na esquerda, o moderado Masoud Pezeshkian e à direita, Said Jalili - AFP

Se confirmar na próxima sexta-feira (5) a vitória no segundo turno das eleições presidenciais do Irã,  o candidato moderado, Masoud Pezeshkian, deve promover uma flexibilização nos costumes morais dentro do país, mas não mudanças significativas em sua política externa. Esta é a opinião do professor de História das Relações Internacionais da UniCuritiba, Andrew Traumann, convidado desta segunda-feira (1) do Central do Brasil.

O especialista diz que uma vitória de Pezeshkian não deve significar "mudança drástica do regime, transformação estrutural. Mas esperamos um maior relaxamento dos costumes." 

"O impacto de uma eventual vitória é mais interno, relaxamento da censura, dos costumes. Imagino que o líder supremo, Khamenei, possa aceitar isso como sobrevivência do regime, já que o Irã já teve governos mais relaxados nesses assuntos." 

"A politica externa, a relação com Israel e [com o grupo militante iemenita] Houtis, nao deve mudar. O que pode mudar é o programa nuclear, já que Pezeshkian prega abertura econômica com o Ocidente, fazendo concessões no programa nuclear para resolver os problemas econômicos do país", afirma ele. 

Disputa

Pezeshkian disputa com o conservador Said Jalili o segundo turno na sexta. Dos 24,54 milhões de votos apurados, ele obteve 10,41 milhões (42%), e Jalili, ex-negociador internacional sobre o programa nuclear iraniano, 9,47 milhões (38%). O primeiro turno teve o nível de abstenção mais alto desde a Revolução Iraniana, de 1979. 

"A entrada do Pezeshkian, ex-ministro da Saúde, era uma concessão do regime, nao era para ele estar nessas eleições", disse Traumann.

"Historicamente está ocorrendo um baixo comparecimento dos eleitores e por isso houve essa concessão, colocar um candidato reformista que, aos olhos do regime, não teria a menor chance, não seria ameaça ao estado."

O especialista afirma, que "surpreendentemente ele conseguiu chegar em primeiro lugar, vitória apertada, por um milhão de votos.".

Mas, ainda assim, ele destaca que, como a maior surpresa do pleito, o " terceiro colocado ser o favorito do regime, Mohammad Bagher Ghalibaf, ex-prefeito de Teerã, membro da Guarda Revolucionária, que teve desempenho pífio". 

"Ele é muito conhecido no país, mas pesaram sobre ele varias acusações de corrupção e enriquecimento ilícito."

As eleições presidenciais foram antecipadas no Irã por causa da morte do presidente Ebrahim Raisi, ocorrida em maio em acidente de helicóptero. 

*Com AFP

Edição: Rodrigo Durão Coelho