América Latina

El Salvador: TSE admite falhas na apuração após oposição apontar irregularidades nas eleições

Presidente de direita, Nayib Bukele, reivindicou vitória e disse que também venceu maioria no Legislativo

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Mesário mostra cartela de votação nas eleições de El Salvador no domingo (4) - YURI CORTEZ / AFP

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de El Salvador anunciou nesta terça-feira (6) que houve falhas na apuração dos votos das eleições presidenciais e legislativas realizadas no último domingo (4).

Ainda na noite de segunda, após anunciar o resultado do pleito, o TSE anunciou que abrirá 29% de urnas da eleição presidencial e 100% da eleição legislativa. “Apesar de todos os esforços institucionais, não foi possível concluir da forma esperada” afirmou a presidenta do TSE, Dora Martínez de Barahona, em relação à transmissão da ata de encerramento e análise dos votos.

Segundo a presidenta do TSE, o sistema processou cerca de 70% dos votos da eleição presidencial e pouco mais de 5% da eleição legislativa. Nesta terça-feira (7), o colegiado se reuniu com representantes dos partidos políticos. Segundo o órgão eleitoral, a apuração dos votos será feita com o acompanhamento do Ministério Público Federal, da Procuradoria Geral da República, da Junta de Vigilância Eleitoral, além de observadores, partidos políticos e suporte técnico do TSE.

Na noite de domingo, Bukele se proclamou vencedor do pleito e afirmou ter obtido mais de 85% dos votos sem que a apuração oficial dos resultados tivesse iniciado. Os resultados divulgados de forma oficial pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do país superaram os 70% dos votos apurados por volta das 11h, horário de Brasília, de segunda-feira (5) e mostram a vitória de Bukele, com mais de 1,6 milhão de votos.

O candidato de esquerda da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), Manuel "Chino" Flores, e da Aliança Republicana Nacionalista (Arena), Joel Sánchez, alcançaram 139 mil e 122 mil votos, respectivamente.

Oposição acusa processo de fraude

Ena Hernandez, ex-diplomata salvadorenha do partido de esquerda Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), aponta falhas ao longo de todo o processo  e acusa o partido governista Novas Ideias de fraudar as eleições. "Agora o tribunal decidiu abrir os centros de votação, caixa por caixa, para contar as cédulas. Mas que garantia nós temos que essas cédulas já não foram trocadas? Se não há um correlativo, não há nenhuma garantia nesse processo", disse ao Brasil de Fato.

O correlativo a que ela se refere é um número correspondente ao número de ordem das células impressas de forma sequencial. Uma cópia com os últimos três dígitos do correlativo é entregue ao eleitor e outra é recolhida pelo secretário da Junta Receptora de Votos (JRV) em cada local de votação, que fica responsável por colocá-los em um depósito especialmente destinado para isso.

"Quando começa a abertura da JRV, verifica-se que as cédulas não foram consecutivas, em algumas houve mais cédulas e todos os blocos não eram números consecutivos, eram números quaisquer, ali estava instalada a fraude", diz Hernandez.

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Ela atuou no início da campanha da FMLN e afirma que a reeleição de Bukele estava no horizonte, mas havia elementos de que a oposição ganharia algumas cadeiras no Parlamento. 

"Nas pesquisas internas do oficialismo, sabiam que Bukele ganhava a presidência mas perdia deputados. No território, era o que se percebia. Ante isso, houve uma fraude preparada. Nós sabíamos que a situação não ia ser fácil, mas prepararam uma fraude com a cumplicidade do Tribunal Superior Eleitoral", afirma a ex-diplomata da FMLN.

Ela relata que militantes do partido governista entraram nos centros de votação de Cojutepeque, credenciados pelo TSE e acompanhados pela polícia local para levar as atas de votação. "Não temos atas, não temos cédulas, não temos nada. Ontem na capital San Salvador não havia nenhum pacote eleitoral [caixas com atas, cédulas e correlativos] É uma fraude totalmente instalada, são as eleições mais fraudulentas".

Edição: Rodrigo Durão Coelho