O podcast Memórias de Batuque conta a história do carnaval de São Paulo por meio do perfil de personalidades da festa. Com o lançamento marcado para o dia 8 de fevereiro, quinta-feira, o projeto é uma parceria entre a Alma Preta e o Brasil de Fato.
A iniciativa tem o objetivo de fortalecer a memória do carnaval de São Paulo e resgatar os caminhos para o surgimento e o desenvolvimento da festa. Para isso, na primeira temporada, será apresentada a história de pessoas pilares do samba da cidade, com trajetória em escolas de samba, como Seu Carlão do Peruche, Maria Helena Embaixatriz, Seu Ideval e Seu Chiclé. A expectativa é de que novas temporadas contem a história de outros sambistas.
Monyse Ravena, coordenadora da área de áudio e vídeo do Brasil de Fato, acredita na importância dos sambistas como forma de fortalecer a identidade nacional e mobilizadores das lutas sociais.
"O carnaval e em especial o samba são constituintes da identidade nacional e da formação social brasileira, constroem nossa cultura no cotidiano. Contar essa história por meio desses personagens e protagonistas nos ajudam a entender a importância deles é dessas histórias que se mesclam com a política e com as lutas sociais", afirma.
Seu Carlão do Peruche, o único cardeal do samba da cidade vivo, recorda os primórdios e as origens da celebração durante o episódio de abertura. "Vinha gente de tudo quanto é lugar pra Pirapora de Bom Jesus na festa do Santo, vinha gente de Tietê, de Campinas, Piracicaba, toda aquela região, Bariri, vinha prestar homenagem para o santo né?".
A repressão à festa e a discriminação sofrida por sambistas, a maioria negros, é também tema das conversas. Durante a trajetória de Seu Chiclé, que foi presidente do Vai-Vai por 20 anos, a ação da polícia era uma constante.
"Aconteceu muita coisa naquela época, porque autoridade olhava eles como um bando de marginal. Eles não olhavam como uma entidade cultural. Hoje é olhado como uma entidade cultural, mas antes não. Então, o que acontecia? Dependendo do local, dependendo do dia, dependendo do ensaio, normalmente, a polícia dissolvia os ensaios".
Esse projeto tem raízes em 2006, no contexto de um trabalho de conclusão de curso em Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero da dupla Camila Rodrigues da Silva e Milena Ootuca. Na ocasião, a proposta era desenvolver um livro-reportagem para retratar e documentar as histórias das pessoas que formavam a Embaixada do Samba Paulistano, entidade fundada pela UESP em 1993, há mais de 30 anos.
Uma das locutoras do podcast e repórter da Alma Preta, Camila Rodrigues da Silva ressalta a importância do projeto para a memória negra. "O podcast chega para ampliar os registros sobre a história do carnaval negro paulistano. A gente traz histórias novas nas vozes protagonistas. São registros inéditos de pessoas que fundaram e lideraram o Carnaval de São Paulo e o fizeram ser o que é hoje".
A maior parte dos registros está datada do ano da pesquisa e o restante foi gravado para completar as entrevistas e analisar aspectos da cultura samba. O material foi editado, organizado e transformado em histórias para que mais pessoas possam ter acesso a esses relatos.
A expectativa da Alma Preta e do Brasil de Fato é de construir novas temporadas, com mais personagens sobre o carnaval de São Paulo e de outras regiões do país.
Edição: Rodrigo Durão Coelho