O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) recebeu em seu gabinete coordenadores do autoproclamado "Movimento Invasão Zero", acusado de usar táticas de milícia contra integrantes do MST na Bahia.
Como mostrou o Brasil de Fato, o grupo, que atua no sul do estado nordestino, espalhou terror entre centenas de famílias integrantes do MST que estavam acampadas em fazenda que já tinha sido designada para a reforma agrária. A ocupação aconteceu durante a Jornada Nacional de Luta em Defesa da Reforma Agrária, mobilização anual do MST em favor da redistribuição de terras.
No último dia 24 de abril, centenas de proprietários de terra da região foram com seus funcionários e policiais militares para o local da ocupação com o objetivo de expulsar os acampados. Houve algumas horas de negociação e o grupo deixou o local sem confronto.
"O clima no acampamento é de muita apreensão, porque [as pessoas que foram até a entrada do acampamento] são milicianos armados a mando dos fazendeiros", disse na época uma pessoa acampada no local ao Brasil de Fato. O nome não foi revelado, por questões de segurança.
Encontro em Brasília
A reunião entre Zucco e representantes do "Invasão Zero" aconteceu no último dia 9 de maio, quando Luiz Uaquim e Dida Souza, empresários que se apresentam como "coordenadores do movimento" estiveram na capital federal para conversar com parlamentares de extrema direita que, àquela altura organizavam os últimos detalhes antes da CPI, formalizada na semana seguinte.
A conversa foi destaque no site oficial do próprio deputado, que citou uma suposta "escalada de violência no campo por conta da invasão de propriedades privadas", sem citar fatos. A página oficial do deputado disse ainda que os fazendeiros foram obrigados a "se defender por conta própria".
"A Constituição não existe na Bahia. E também não se prende ninguém pela invasão de propriedade. Dessa forma, tivemos que reagir e nos organizar para expulsar os invasores por conta própria", teria dito Uaquim, reconhecendo as práticas análogas às de atuação de milícias, em fala replicada pelo site de Zucco.
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"A ausência do Estado na resolução dos conflitos agrários pode provocar uma tragédia se tivermos um enfrentamento mais duro entre índios, sem-terra e agricultores", disse Zucco, em tom de ameaça, em fala também publicada em seu site.
Edição: Thalita Pires