Era um dia distante de um janeiro também distante quando um pequeno grupo de participantes do 1º Encontro Nacional de Trabalhadores Sem Terra, em Cascavel (PR), visitou três ou quatro famílias que haviam ocupado a lasca de uma gleba nos arredores.
Abrigaram-se do jeito que dera em um capão à beira da estrada.
Ali, no fundo da mata nativa, havia uma surpresa. Protegido por irmãos e vizinhos, todos crianças, havia um bebê repousando em um velho carrinho de mão. Naquela manjedoura bruta de ferro agitava-se entre panos e fraldas. Parecia um início difícil por todas as circunstâncias mas promissor pela insubmissão diante do destino que lhe coubera.
:: MST completa 40 anos e se torna o movimento popular camponês mais longevo da história do Brasil ::
Aquela pequena vida em processo assemelhava-se a outro nascituro naquele 22 de janeiro de 1984. Naquela data – 40 anos neste mês – também partejado na terra vermelha do Sul do Brasil nascera o MST. Por isso, fotografei, no lusco-fusco do arvoredo, a figurinha frágil mas que se movia com vigor. Me pareceu uma perfeita metáfora para o movimento que se moveria Brasil afora nas décadas seguintes ajudando a empurrar o país um tanto mais no rumo da justiça social.
É uma jornada que nasce, de papel passado, naquele oeste do Paraná, mas tinha andanças anteriores e teria muitas ao longo do futuro que foi construindo e que prossegue agora. Parte delas, principalmente em solo gaúcho, consegui acompanhar.
Então, este brevíssimo ensaio fotográfico abarca imagens de um antes e um depois de Cascavel e daquele presépio agreste. São cenas e semblantes que transitam do final de um século aos primeiros anos de outro. Mostro mais os tempos duros de marchas e acampamentos. É um pálido registro de uma trajetória muito mais poderosa, produtiva, diversa e abrangente.
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Marcelo Ferreira