Guerra da Ucrânia

Rússia diz que 'fórmula de paz' de Zelensky é 'absurda e inaceitável'

Diplomacia russa comentou os resultados da participação do líder ucraniano no fórum de Davos, na Suíça

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, durante briefing - Ministério das Relações Exteriores da Rússia

A representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, comentou na última terça-feira (16) os resultados da participação do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. 

De acordo com a diplomata, "há uma compreensão crescente no mundo de que sem a participação da Rússia é impossível alcançar uma solução sustentável para a situação na Ucrânia". 

"Hoje, cada vez mais países do Sul e do Leste globais, incluindo aqueles que participaram nas reuniões no formato de Copenhagen, dizem abertamente que sem a Rússia, qualquer discussão sobre os possíveis contornos da resolução da crise ucraniana não faz sentido", diz Zakharova em comunicado publicado no site da Chancelaria russa, se referindo à cúpula sobre a guerra da Ucrânia, organizada por Kiev em agosto de 2023.

Anteriormente, foi relatado que a participação de Zelensky em Davos nesta semana tinha como objetivo promover o plano ucraniano de resolução da guerra e, ao mesmo tempo, angariar apoio dos países do Sul Global para a sua "fórmula de paz" de dez pontos, inicialmente apresentada na cúpula do G20, em novembro de 2022.

O plano, entre outras coisas, inclui a retirada das tropas russas de todo o território internacionalmente reconhecido da Ucrânia, incluindo a Crimeia. A proposta também prevê a punição de criminosos de guerra e o pagamento de indenizações.

Maria Zakharova, por sua vez, destacou que também há um entendimento - entre os países do Sul Global - de que a paz na Ucrânia não pode ser alcançada colocando a "fórmula Zelensky" em primeiro plano. Segundo ela, as exigências do líder ucraniano são apartadas da realidade.

"Todas as reuniões no formato de Copenhagen, incluindo a reunião em Davos e as rondas subsequentes, são sem sentido e prejudiciais para a resolução da crise ucraniana. Os 'princípios de paz para a Ucrânia' que os seus organizadores estão tentando desenvolver são a priori inviáveis, uma vez que são baseado em uma 'fórmula' absurda e inaceitável de Zelensky, que também estabeleceu uma autoproibição legal de conduzir negociações de paz com a Rússia", afirmou Zakharova.

Ela ainda observou que um acordo abrangente sobre Ucrânia só é possível declarando o regresso do país a um status neutro, não alinhado e livre de armas nucleares, assim como a garantia de pleno respeito pelos direitos e liberdades dos cidadãos de qualquer nacionalidade que vivem no seu território.

"Infelizmente, estas questões não estão incluídas nem na fórmula de Zelensky nem na agenda das reuniões no formato de Copenhagen", concluiu Zakharova.

Zelensky rechaça congelamento da guerra

Durante o seu discurso em Davos, presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, rechaçou a ideia de um congelamento da guerra, afirmando que isso não acabaria com o conflito. 

"Deixe-me lembrar que depois de 2014 houve tentativas de congelar a guerra em Donbass. Houve fiadores muito influentes deste processo - o então chanceler da Alemanha, os então presidentes da França. Mas Putin é um predador que não está satisfeito com alimentos congelados", disse Zelensky. 

De acordo com o presidente ucraniano,  qualquer conflito congelado irá, mais cedo ou mais tarde, reacender-se novamente. Zelensky também se queixou que os apelos prolongados dos países ocidentais "para não agravar" a situação levaram à perda de tempo e oportunidades, bem como a morte de muitos soldados ucranianos experientes que lutaram desde 2014.

"Pedimos novos tipos de armas e em resposta ouvimos: 'não escalem'. Mas então as armas chegaram e não houve escalada. Um míssil russo caiu em território da OTAN – a resposta foi novamente 'não escalar'. Mas a retaliação nesse momento poderia ensinar muito à Rússia e dar ao Ocidente a confiança de que necessita", disse o presidente ucraniano.

Edição: Lucas Estanislau