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'Ainda existe chance dela ser instalada', diz vereadora Silvia Ferraro sobre CPI que mira ONGs e padre Júlio Lancellotti em SP

Vereadora explica que apesar de colegas desistirem de apoio, comissão pode ser instalada na volta do recesso legislativo

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Padre Júlio é conhecido por seu trabalho em defesa dos direitos humanos e ajuda social junto à população em situação de rua - Rovena Rosa/Agência Brasil

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) protocolada em dezembro do ano passado na Câmara Municipal de São Paulo para investigar atuação de organizações não governamentais (ONGs) e do padre Júlio Lancellotti, muito conhecido pelas ações sociais no centro da capital, causou indignação na sociedade civil, movimentos sociais e na população, que se manifestou contrária à iniciativa na internet.

Depois da repercussão negativa, muitos vereadores manifestaram recuo e desistência no apoio à CPI articulada pelo vereador Rubinho Nunes (União Brasil). Porém, a retirada de assinaturas, segundo a própria Câmara, é "simbólica", e apenas Nunes, autor do requerimento, pode pedir a retirada da comissão.

A vereadora Silvia Ferraro, da Bancada Feminista do PSOL, contrária desde que descobriu a ideia do seu colega, demonstra preocupação com o possível avanço da comissão assim que o recesso legislativo terminar. O presidente da Casa Legislativa, Milton Leite (União Brasil), pretende colocar em pauta o assunto.

"É muito preocupante que o vereador Rubinho Nunes continue propagando nas suas redes sociais que a CPI será instalada, que o presidente da Câmara não tenha tido uma manifestação categórica contra a CPI", disse a vereadora, em entrevista ao prograna Central do Brasil, do Brasil de Fato. "Alguns vereadores que retiraram o apoio político retiraram com a condição de que não fosse ser o foco o padre Júlio, mas que seriam a favor de uma CPI focada aí nas ONGs que fazem trabalho social com a população em situação de rua. Então, permanece o alerta, porque ainda existe, sim, infelizmente, uma chance dessa CPI ser instalada na Câmara Municipal assim que os trabalhos voltarem", afirmou.

O cardeal dom Odilo Scherer encaminhou um ofício a Milton Leite em que solicita o envio das denúncias as quais se referiu como de extrema gravidade a respeito do padre Julio, que pertence à Pastoral do Povo de Rua paulistana.

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A vereadora da Bancada Feminista do PSOL articula para que a CPI não seja levada adiante e critica Rubinho Nunes.

"Pelo Rubinho Nunes, a população em situação de rua seria tratada com Polícia e internação compulsória, no caso dos dependentes químicos. Então, ele tem todo um ódio aos pobres, ódio que é vociferado ainda nas redes sociais dele, nos vídeos que ele faz. Então, é óbvio que ele não gosta de uma figura como o padre Júlio Lancellotti, que tem amor aos empobrecidos, aos desvalidos. Isso faz com que ele queira manchar a imagem do padre Júlio e está se utilizando de artifícios, inclusive, de manipulação visual", alerta Ferraro.

Ela ressalta que São Paulo tem o maior número de pessoas em situação de rua do país. E defende que esse fato, sim, deve ser alvo de investigação.

"Quem deve ser investigada é a própria Prefeitura de São Paulo, que, inclusive pelo próprio relatório, pela própria auditoria do Tribunal de Contas do Município, não tem aplicado recursos suficientes acompanhando a evolução da quantidade dessa população em situação de rua, que só aumentou nos últimos anos aqui na cidade. Hoje nós temos 54 mil pessoas em situação de rua, o que é o maior número do Brasil. Isso é um escândalo na cidade mais rica do país", afirma a vereadora.

A entrevista completa, feita pela apresentadora Luana Ibelli, está disponível na edição desta quarta-feira (17) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.

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O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.

Edição: Nicolau Soares