O Brasil também foi um dos 82 países a participar da 8ª Conferência Internacional da Via Campesina, plataforma que reúne as principais organizações de luta no campo de todas as regiões do mundo. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) esteve representado por sua liderança João Pedro Stedile e uma delegação com outros membros.
Durante o terceiro dia de debates nesta terça-feira (05), Stedile falou sobre os desafios universais do movimento camponês e destacou a urgência de se colocar o combate às mudanças climáticas como tema central para a luta no campo.
"Precisamos colocar no centro da luta o enfrentamento aos crimes ambientais e às mudanças climáticas e para isso não adianta ir às COP [Conferência para o Clima da ONU], pois elas são uma enganação, uma falácia dos governos, 24 mil pessoas estão agora em Dubai e não decidem nada", disse.
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O dirigente do MST ainda apontou para o caráter estrutural dos problemas climáticos e disse que a crise ambiental é causada pela agressão do capitalismo e não apenas pelo ser humano.
"Bilhões de pessoas convivem em equilíbrio com a natureza, portanto a causa da crise ambiental são as agressões do sistema capitalista que, em crise, trata de se apoderar dos bens comuns da natureza para acumular mais capital e tentar sair dessa crise", disse.
Stedile também falou sobre a urgência de capacitar trabalhadores rurais para que as experiências agroecológicas e de produção de alimentos orgânicos sejam massivas e possam contar com tecnologias de energias renováveis e outros elementos que estimulem a agroindústria coletiva.
"A agroindústria é fundamental para gerar trabalho e renda para a juventude e para as mulheres. Sem isso, não teremos alternativa para oferecer trabalho digno remunerado para que a juventude fique no campo", afirmou.
Diversidade e unidade
Além da participação brasileira, o segundo e o terceiro dia de debates nesta segunda e terça-feira (05) estiveram marcados pela participação de representantes de todas as regiões do planeta, que denunciaram agressões sofridas em seus países e apresentaram propostas para o combate à fome e soberania alimentar.
Mayumi Yokoyama, do Movimento Nacional de Agricultura Familiar do Japão disse que os acordos de livre comércio entre o país e os EUA prejudicam os pequenos produtores locais, já que muitos deles fazem com que a legislação japonesa seja rigorosa com a patente de grandes empresas do agronegócio sobre sementes.
"Na minha região, vemos como a agricultura voltada para a exportação e o uso de agrotóxicos sobre plantações são impostos sobre famílias camponesas, a ponto de que muitos países já promovem uma agricultura sem camponeses", disse.
Já Hendrick Ndlovu, representante do Fórum de Pequenos Agricultores do Zimbábue, destacou o papel que organismos financeiros multilaterais possuem no avanço do modelo de monocultura para exportação no sul global.
"Muitos de nossos governos na África enfrentam o dilema entre comida e dinheiro para quitar compromissos, mas se encararmos a agricultura como um negócio, não haverá saída, não podemos apoiar mais grandes fazendeiros do que os camponeses", disse.
Uma das cinco taxas de inflação mais alta do mundo, o Zimbábue está sancionado por entidades internacionais como o FMI por inadimplência de sua dívida externa, que ultrapassou os 14 bilhões dólares em 2023. Durante uma cúpula para tratar da dívida realizada em maio deste ano, o presidente do país, Emmerson Mnangagwa, apresentou aos credores a alta produção de trigo como uma maneira de captar dólares para quitar os débitos.
Tove Sundstrom, do Movimento de Pequenos Agricultores da Suécia, disse que na Europa "a concentração de terra está crescendo e os camponeses já perderam mais de meio milhão de fazendas". "As grandes empresas estão tomando nossa terra porque o agronegócio é feito pra ser um investimento certeiro, então não importa se ele for gerido às custas da democracia, do meio ambiente e das comunidades locais", disse.
Já a representante do Sindicato dos Camponeses do Canadá, Genevieve Lalumiere, afirmou que os movimentos de luta no campo do país se opõem ao tratado de livre-comércio entre EUA, México e o governo canadense, "principalmente às regulações relacionadas a patentes sobre sementes e ao dumping de preços dos produtos agrícolas".
Edição: Rodrigo Durão Coelho