Mais de 180 organizações camponesas de 82 países diferentes decidiram se reunir em Bogotá, capital da Colômbia, para debater e propor modelos de desenvolvimento e produção alimentar alternativos ao agronegócio.
A 8ª Conferência Internacional da Via Campesina, que começa nesta sexta-feira (1), promete trazer ao país sul-americano mais de 500 representantes de movimentos do campo de todas as regiões do mundo para discutir a construção da soberania alimentar frente às atuais crises globais.
Esta será a primeira conferência internacional dos movimentos após a pandemia da covid-19 que, segundo estudos da ONU, gerou aumentos no número de pessoas afetadas pela fome e agravou os níveis de insegurança alimentar em todo o mundo.
Segundo o relatório Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo, elaborado por cinco agências das Nações Unidas e publicado em julho deste ano, mais de 122 milhões de pessoas passaram a enfrentar a fome depois da pandemia do novo coronavírus. Atualmente, a ONU afirma que existem 735 milhões de pessoas passando fome e 2,4 bilhões em situação de insegurança alimentar.
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Na América Latina, a quantidade de pessoas em situação de fome ainda é maior do que os índices registrados em 2019, antes do início da pandemia. De acordo com dados da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), 43,2 milhões de latino-americanos passam fome.
Durante os oito dias de debates e atividades, as organizações que participarão da Conferência Internacional da Via Campesina devem discutir temas que afetam as diferentes zonas rurais de cada uma das regiões do planeta para construir práticas em prol da soberania alimentar como uma proposta alternativa de agricultura camponesa frente ao agronegócio.
Fundada em 1993, o movimento Via Campesina hoje abarca as principais organizações de luta no campo de todos os continentes e defende a construção de consensos e práticas internacionais para a produção alimentar ecológica que possa combater a fome e reduzir riscos de insegurança alimentar.
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Paralelamente à 8ª Conferência Internacional, os movimentos presentes também devem realizar a 5ª Assembleia de Jovens e a 6ª Assembleia de Mulheres, cujo objetivo é "debater o feminismo camponês e popular para lutar contra as crises e as violências" das trabalhadoras rurais.
"A assembleia é uma oportunidade de fortalecer nossa visão comum e um caminho para buscar saídas novas aos conceitos que já conhecemos, assim como as propostas e demandas que vão surgindo nos territórios, que logo são assumidas pelo movimento", afirmam os organizadores.
Guerra em Gaza
As hostilidades na Faixa de Gaza que começaram no último dia 7 de outubro geraram ações dos movimentos organizados na Via Campesina e devem influenciar os temas de discussão da conferência.
Em comunicado, a organização exigiu "o fim de todas as agressões e atos de violência contra civis" bem como "a acusação de todos os responsáveis por crimes de guerra diante da Corte Internacional de Justiça".
Além disso, a Via Campesina em parceira com a União de Comitês de Trabalho Agrícola (UAWC, na sigla em inglês), movimento camponês da Palestina, iniciou uma campanha por doações que visa angariar alimentos, água e artigos de primeira necessidade aos afetados pelos ataques em Gaza.
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"A ocupação israelense usa a fome como arma contra a população civil para obrigá-la a abandonar Gaza e imigrar ao Egito. Essa tática brutal obrigou a saída de mais de 1,5 milhão de palestinos ao norte e ao sul da Faixa de Gaza", diz.
A organização também declarou apoio ao movimento chamado BDS, sigla para Boicote, Desinvestimento e Sanções, que visa boicotar apoios financeiros diretos e indiretos ao Estado de Israel. "Muitos produtos estão etiquetados de forma errada como 'feitos em Israel' quando, na verdade, vêm de terras palestinas roubadas", afirma a Via Campesina.
Para a 8ª Conferência Internacional, está previsto o lançamento de um comitê especial da organização para a Região Árabe e Norte da África que contará com movimentos da Palestina, Marrocos e Tunísia.
Edição: Leandro Melito