Impacto

Consequências da crise climática são mais sentidas nas favelas

Temperaturas altas são mais sentidas em ambientes com pouca vegetação

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
favela rio de janeiro
A saída para minimizar os impactos da crise climática não é outra senão, principalmente, a cobertura vegetal dos solos das grandes cidades - Defensoria/Divulgação

No início do mês de outubro, o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) divulgou um estudo em que revela alguns dados assustadores em relação às mudanças climáticas. O mês de setembro deste ano foi o mais quente dos últimos 20 anos e os meses de julho e agosto tiveram as maiores temperaturas históricas para os períodos. 

E adivinhem onde foram registradas as temperaturas mais elevadas. Se você pensou em favelas, acertou. A Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro apresentou uma temperatura média de 24,7º no mês de setembro e a máxima chegou a 26,5º. 

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Outra informação importante é a elevação das temperaturas nos meses de julho e agosto que registraram 36,5º e 38,7ºC, respectivamente, consideradas as maiores já registradas nos dois meses, na estação mais fria do ano, o inverno. Esse cenário revela a importância de aumentar a cobertura vegetada nas cidades, principalmente em áreas com maior densidade demográfica que, historicamente, são vilas e favelas. 

No Rio de Janeiro, apesar de toda arquitetura natural e a vasta cobertura de Mata Atlântica, ainda temos concentração de calor em áreas periféricas.

Esses locais têm um adensamento populacional, que aumenta ainda mais a sensação térmica. A crise climática faz com que essas temperaturas sejam mais sentidas em ambientes com pouca vegetação, como é o Complexo de Favelas da Maré, que concentra mais de 139 mil pessoas, distribuídas em 17 comunidades e em uma área de aproximadamente 4 km², segundo dados da Redes da Maré. 

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Esses números fazem com que a Favela da Maré seja a 9ª mais populosa do Rio de Janeiro e maior do que 96% dos municípios do Brasil. Se o complexo fosse um município, estaria na 213ª posição dos mais populosos do Brasil, num universo de 5.568 cidades no país. E só estou dando um exemplo da Maré, mas se formos fazer esse levantamento em outras localidades, podemos ter números ainda mais expressivos, como no Complexo do Alemão ou na Rocinha.

A saída para minimizar os impactos da crise climática não é outra senão, principalmente, a cobertura vegetal dos solos das grandes cidades.

Dessa forma, implantar projetos de cobertura vegetal, em médio e longo prazos, podem melhorar a qualidade de vida das populações. Na Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Clima da Cidade do Rio de Janeiro estamos empenhados em aumentar essa cobertura, repaginando o programa Mutirão de Reflorestamento, inclusive inserindo a utilização de drones para aprimorar os estudo e, assim, ampliar a capacidade de cobertura.

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Além disso, ao redor desses territórios periféricos, temos programas como "Cada Favela uma Floresta" e já iniciamos o estudo para nosso fundo de projetos de adaptação e atividades sócio-ambientais, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida nesses locais. É necessário que políticas públicas sejam criadas e efetivamente colocadas em prática, principalmente em áreas periféricas. O sol é para todos, mas as consequências da crise climática são mais sentidas nas favelas. 

*Tainá de Paula é arquiteta, urbanista e ativista das lutas urbanas. É especialista em Patrimônio Cultural pela Fundação Oswaldo Cruz e Mestre em Urbanismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente, é vereadora licenciada e ocupa o cargo de Secretária de Meio Ambiente e Clima da Cidade do Rio de Janeiro.

**Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Fonte: BdF Rio de Janeiro

Edição: Mariana Pitasse