Impacto

Cobradores temem perder empregos com fim do pagamento em dinheiro nos ônibus do DF

Sindicato argumenta que trabalhadores cumprem outras funções e que falta estrutura na cidade para mudar sistema

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
DF conta com 5.300 cobradores, conforme dados do Sittrater-DF - TCB / Divulgação

Os mais de 5.300 trabalhadores que atuam como cobradores de ônibus no Distrito Federal estão com medo de perderem o emprego, informa o presidente do Sindicato dos Rodoviários do Distrito Federal (Sittrater-DF), João Jesus.

O governo do Distrito Federal (GDF) anunciou que a partir de 1º de julho algumas linhas de ônibus aceitarão apenas o meio eletrônico para pagamento, o que deve impactar diretamente os trabalhadores e os usuários que ainda fazem uso de dinheiro em espécie para o pagamento das passagens.

"Brasília hoje não tem estrutura para atender a população no pagamento do transporte apenas por meio eletrônico. O governo [GDF] precisava, primeiro, melhorar a estrutura de venda e recarga dos cartões, pois do jeito que está sendo feito, parte da população vai ficar sem acesso aos ônibus", advertiu João Jesus, destacando que Brasília é marcada pelas distâncias das regiões administrativas e que muitas dessas localidades não contam com pontos de vendas do cartão de transporte.

Ao falar especificamente sobre a função dos cobradores, o presidente do Sittrater-DF destacou que o Sindicato é contra a retirada dessa função, como quer o GDF e as empresas de ônibus. "Primeiro tem a importância do emprego do cobrador. São mais de 5,3 mil pais e mães de família que sustentam suas casas com esse emprego. Além disso, a função deles no ônibus é para além de cobrar passagem", argumentou João Jesus.

"O cobrador está ali também para auxiliar o motorista no embate de passageiros, para ajudar o cadeirante, alguém com deficiência, um idoso. Além de tudo isso, tem a própria fiscalização no interior dos ônibus, que impacta na questão da evasão de receita, pois o motorista dirigindo não consegue fiscalizar se entrou alguém sem pagar", acrescentou o presidente do Sindicato dos Rodoviários.

Segundo ele, a informação do GDF de que esses trabalhadores serão realocados dentro das próprias empresas não se sustenta, pois não há demanda para tanta gente em trabalhos internos. Por isso, o Sittrater defende a permanência dos cobradores dentro dos ônibus.

O cobrador Júlio Silva está apreensivo. "A gente não tem informação. O governo e a empresa que trabalho [o funcionário preferiu não informar] não deixam claro o que vai acontecer com a gente. Está todo mundo sem saber se vai continuar trabalhando", desabafou.


Sindicato aponta que DF tem poucos pontos de venda para aquisição e recarga do cartão / Andre Borges/Agência Brasília

CLDF

As mudanças anunciadas pelo GDF para o funcionamento dos ônibus têm sido uma das principais discussões na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), sobretudo com críticas dos parlamentares de oposição ao governo Ibaneis Rocha pela falta de diálogo neste processo de mudança da forma de pagamento das passagens.

"Ao apresentar a possível mudança, a Semob precisa apresentar onde serão essas alocações e como se dará isso no prazo", afirmou o presidente da Comissão de Transporte e Mobilidade Urbana (CTMU), deputado Max Maciel (PSOL).

"Nossa defesa é que não cabe retirada dos cobradores e que o trabalho deles já consta no equilíbrio financeiro do sistema", acrescentou Maciel, que presidirá a 3ª Reunião Técnica da Comissão de Transporte e Mobilidade Urbana, dedicada a debater os métodos de pagamento da tarifa individual dos serviços de transportes públicos coletivos integrantes do DF.

O evento acontecerá no dia 29 de maio e deve contar com a presença de sindicalistas, representantes do Ministério Público e do secretário de Transporte e Mobilidade, Zeno Gonçalves.

Semob

Em nota, a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) confirmou que pagamento exclusivo por meio eletrônico começará no dia 1º de julho, mas ressaltou que as alterações serão feitas de "forma gradual", iniciando pelas linhas com menor volume de pagamento em dinheiro, onde a maioria dos usuários já utilizam o pagamento por meio eletrônico, e ampliando gradativamente para outras linhas.

"A lista das linhas que ainda vão permitir o pagamento em espécie será divulgada pela secretaria de forma antecipada", informou a Semob, destacando que já vinha monitorando um crescimento de adesão do cartão e dos meios de pagamento eletrônico nas linhas do sistema.

Em relação aos cobradores dos ônibus, a Semob garantiu que "serão mantidos em seus postos de trabalho para monitorar o sistema e auxiliar os passageiros que tiverem dificuldade no pagamento eletrônico das passagens".

A Pasta informou ainda que os cobradores devem continuar nas linhas onde o serviço não estiver 100% implantado. "Também de forma gradual, os cobradores serão remanejados para outras funções e para a comercialização dos cartões pelas operadoras do transporte público coletivo, lembrando que as operadoras poderão ser credenciadas pelo Banco de Brasília (BRB) para oferecer o serviço."

"É importante destacar que o pix é apenas um dos meios de pagamento para recarga no app BRB Mobilidade. Os créditos do cartão podem ser utilizados em até cinco minutos após a recarga", garantiu a Secretaria de Mobilidade, acrescentando: "Não há pagamento de passagem por pix. O usuário continua tendo a possibilidade de recorrer aos postos de atendimento ou pagar a recarga por meio de boleto."

Ainda segundo a Pasta, alguns ônibus do DF já possuem validadores V6, que aceitam o pagamento da passagem por aproximação. "O pagamento pode ser realizado por meio de cartão Mobilidade, cartão Vale-transporte, cartão bancário de débito e crédito ou QR Code. Todos os veículos estão aptos para esse tipo de pagamento", acrescentou a Semob, destacando que trabalha na publicação de decreto para habilitar essa nova funcionalidade em toda a frota do DF.

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Fonte: BdF Distrito Federal

Edição: Flávia Quirino