Militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) protestaram dentro do prédio da Enel na manhã desta terça-feira (7), no bairro do Morumbi, na capital paulista. Os manifestantes reivindicam a restauração imediata da energia elétrica que desde a última sexta-feira (3) deixa ainda 200 mil imóveis sem luz em São Paulo.
A interrupção do fornecimento de energia, que já chega ao quinto dia, começou depois que uma tempestade com ventos fortes e derrubada de árvores atingiu a capital e a região metropolitana de São Paulo. Sete pessoas morreram e cerca de 2,1 milhões de imóveis, entre residências, comércios, escolas e hospitais, chegaram a ficar no escuro. A Enel informou, em nota, que vai normalizar o fornecimento de energia “para quase a totalidade dos clientes” até esta terça (7).
“O objetivo dessa manifestação é ter uma devolutiva e uma resposta. É inadmissível que São Paulo, a quarta maior cidade do mundo, demore todo esse tempo para restaurar esse apagão. Enquanto isso a população está sofrendo”, afirma Débora Lima, da coordenação nacional do MTST.
Uma comissão de manifestantes foi recebida por representantes da Enel, para quem o movimento apresentou três reivindicações. São elas o ressarcimento dos prejuízos causados pelo apagão, incluindo para famílias que perderam alimentos refrigerados, dias de trabalho e danos em pequenos comércios; a responsabilização pelo “descaso com a população que paga caro por um serviço sem qualidade” e, por último, que seja elaborado um plano de ação para o estado de São Paulo durante os períodos de chuvas.
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Em nota, a Enel afirmou que "devido à complexidade do trabalho para reconstrução da rede atingida por queda de árvores de grande porte e galhos, a recuperação ocorre de forma gradual". A empresa disse, ainda, que "em atuação conjunta com Corpo de Bombeiros, Prefeitura e outras autoridades, a companhia tem priorizado os casos mais críticos, como serviços essenciais e a conexão das escolas onde seriam aplicadas as provas do Enem".
“São Paulo no escuro, Enel a culpa é sua” e “privatiza que piora” são algumas das frases estampadas nas faixas e cartazes do ato que ocupou o salão de entrada da sede da concessionária.
A empresa italiana ganhou a concessão do fornecimento de eletricidade em São Paulo e na região metropolitana em 2018. Desde que, naquele ano, comprou a estatal AES Eletropaulo, a Enel se tornou a maior distribuidora de energia do país. Só em São Paulo, o faturamento da empresa no ano passado foi de R$ 1,4 bilhão. A concessão vale até 2028.
A despeito de ter dobrado o lucro, a Enel reduziu o quadro de funcionários em 36% entre 2019 e 2023, de acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Ligada ao Ministério de Minas e Energia, é da Aneel a competência de gerir e fiscalizar a concessão deste serviço.
O Ministério Público de São Paulo anunciou que nesta semana dará início a uma investigação para apurar a possível omissão da Enel na restauração do fornecimento de energia.
“Diante dos recentes fatos, o MTST denuncia o sucateamento dos serviços públicos no Estado de São Paulo, que tem se intensificado por conta das privatizações”, denuncia o movimento, em nota. Para Débora, “o que aconteceu em São Paulo nos últimos dias é um alerta sobre resultados nefastos das privatizações dos serviços básicos no Estado de São Paulo. A Enel de hoje pode ser a Sabesp de amanhã”.
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Edição: Vivian Virissimo