Debandada?

Na Argentina, empresários e think tanks de direita abandonam macrismo para apoiar Milei

Setores que eram ligados ao partido do ex-presidente passaram a observar no candidato da extrema direita uma alternativa

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Milei chegou em primeiro lugar nas eleições prévias argentinas de agosto e está na dianteira das pesquisas para o segundo turno, previsto para 22 de outubro - Luis ROBAYO / AFP

Faltando pouco menos de um mês para o primeiro turno das eleições presidenciais na Argentina, as pesquisas eleitorais começam a consolidar um cenário no qual o candidato de extrema direita, Javier Milei, do partido A Liberdade Avança, ganha cada vez mais eleitores entre os setores direitistas.

Com novas pesquisas que o colocam em primeiro lugar, seguido de perto pelo ministro da Economia Sergio Massa, representante do atual governo e do peronismo, tem direcionado uma aproximação de parte do empresariado e de fundações, entidades e organizações defensoras de ideários conservadores e liberais ao Milei, enxergando nele uma opção na qual valeria apostar as suas fichas.

Essa situação também tem gerado um paulatino abandono do macrismo, que foi preferência desses setores empresariais argentinos na maioria das eleições realizadas neste século.

O doutor em ciências políticas e professor de Relações Internacionais Bruno Lima Rocha tem acompanhado a política argentina já há alguns anos e observado tal transformação do cenário eleitoral desde a campanha das Prévias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (PASO), que terminou com a vitória de Milei, no dia 13 de agosto, resultado que marcou o seu posicionamento como líder da corrida eleitoral.

Opera Mundi, Rocha disse que a "tendência é que os capitais que compõem a chamada ‘Pátria financeira’, os executivos com trânsito entre as elites econômicas e que compõem a maior parte dos poderes fáticos da Argentina, se aproximem cada vez mais de Milei à medida em que as pesquisas apontam para uma maior possibilidade de um segundo turno entre ele e Massa”.

Rocha também considera que o anacronismo do discurso da candidata macrista Patricia Bullrich, que foi ministra de Segurança do governo de Macri (2015-2019), favorece a debandada dos setores de direita tradicional em direção a Milei, já que, segundo ele, a posição da direitista é "basicamente antikirchnerismo".

“O discurso de Bullrich é marcado basicamente pelo antikirchnerismo, mas que é lido em Buenos Aires e sua região metropolitana como antiperonismo. É curioso observar, também, que o próprio Mauricio Macri dedicou as primeiras semanas após as Paso para adular o Milei e tentar alguma aproximação”, disse o acadêmico.

Outro importante setor da direita tradicional argentina que tem se aproximado do candidato ultraliberal, segundo o acadêmico, é o menemismo, através do apoio declarado do ex-senador Eduardo Menem, o irmão do finado ex-presidente Carlos Saúl Menem (1989-1999).

CEOs, ruralistas e financistas

Uma reportagem publicada pelo diário Página/12 revela nomes de alguns dos empresários mais importantes da Argentina, conhecidos por terem sido os financiadores da carreira política do ex-presidente Macri, e que embarcaram na campanha do candidato líder das pesquisas nas últimas semanas.

O caso mais emblemático é o de Cristiano Ratazzi, ex-CEO da Fiat na Argentina e conhecido financiador do partido Proposta Republicana (PRO), fundado por Macri. O empresário era tão entusiasta do macrismo que chegou a ser fiscal de mesa nas eleições de 2015, vencidas pelo candidato da direita.

Segundo o jornal argentino, Ratazzi se afastou dos negócios devido à idade avançada, mas também se afastou do PRO, por passar a ver em Milei e seu discurso de “tirar o Estado do caminho das empresas” uma alternativa melhor que a da candidata Bullrich.

Os ruralistas são outro grupo que costumavam estar com o ex-presidente, mas que se voltou para o lado candidato ultraliberal. O porta-voz da Sociedade Rural Argentina (SRA), Nicolás Pino, tem realizado mais de uma reunião por mês com Milei desde o início deste ano, segundo a imprensa local.

Desde a vitória nas Paso, os encontros de Milei com empresários vêm reunindo representantes de setores diversos, incluindo nomes importantes no país, como Eduardo Eurnekian (America Corporation), Nicolás Posse (Unidade de Negócios Sul), Sebastián e Federico Braun (rede de supermercado La Anónima), Darío Epstein (representante da Black Rock na Argentina) e Ernesto López Anadón (Instituto Argentino de Petróleo e Gás).

Entre os think tanks de direita que aderiram ao ultraliberal estão a Fundação Liberdade e Progresso, dirigida pelo economista Agustín Etchebarne, e o Centro de Estudos Macroeconômicos de Argentina (CEMA), liderado por Roque Fernández e Carlos Rodríguez, dois ex-integrantes da equipe econômica de Menem nos anos 90.

Massa correndo contra o tempo

Após as primárias, o ministro da Economia da Argentina e representante da coalizão peronista União Pela Pátria vem adotando diversas medidas econômicas que visam garantir uma renda mínima para que as classes mais vulneráveis possam enfrentar os efeitos da inflação e manter o nível de consumo, na tentativa de buscar votos tanto entre os trabalhadores quanto entre líderes do setor industrial.