Assembleia Geral

Presidente da Argentina pede 'reforma da arquitetura financeira internacional'

Alberto Fernández criticou o FMI por ‘financiar a Ucrânia durante a guerra enquanto aumenta substantivamente os juros'

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O presidente argentino Alberto Fernández teve uma reunião com o secretário-geral da ONU, António Guterres, antes de seu discurso - Casa Rosada

O discurso do presidente da Argentina, Alberto Fernández, na 78ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) foi enfocado na crítica ao atual sistema financeiro que, segundo o mandatário sul-americano, é a principal responsável pela desigualdade social crescente no planeta.

Em sua última participação no evento, nesta terça-feira (19/09), Fernández disse que “o sistema financeiro internacional não mostra vontade de se adaptar a um mundo que requer a recuperação da equidade perdida ao longo dos anos. Pelo contrário, busca manter a imposição das mesmas políticas ortodoxas que aprofundaram a desigualdade e a miséria que vemos hoje no mundo”.

“A arquitetura financeira mundial serve somente para concentrar a riqueza nas mãos de poucas pessoas, enquanto mantém marginadas vastas regiões do mundo. Aposta na especulação e não no desenvolvimento, na mão de obra barata em detrimento da dignidade do trabalho”, reforçou o mandatário argentino.

Em seguida, Fernández defendeu um novo sistema financeiro que seja baseado no “desenvolvimento com justiça social” e citou o caso da Ucrânia para sustentar sua proposta.

“Ironicamente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) financia a Ucrânia durante a guerra, e em meio a essa guerra aumenta substantivamente os juros que tem cobrado dos países. Por isso, precisamos de uma nova forma de tratamento para as dívidas soberanas que tenha como objetivo o desenvolvimento com justiça social”, declarou.

Em outro trecho do seu discurso, o presidente argentino falou sobre a soberania das Malvinas, dizendo que seu país “jamais abandonará a aspiração de recuperar sua integridade territorial”.

Fernández também fez comentários que soaram como alusão ao cenário político em seu país, onde a extrema direita poderia vencer as eleições presidenciais deste ano com o candidato Javier Milei, do partido A Liberdade Avança, que venceu as prévias eleitorais de agosto e lidera as pesquisas para o primeiro turno, marcado para o dia 22 de outubro.

“O desafio da Argentina agora é avançar na agenda de direito, o que significa reforçar as políticas que produzam equidade entre os cidadãos. Os direitos humanos também são fundamentais e precisam ser defendidos, porque se há retrocesso nesse sentido quem ganha são os promotores dos discursos de ódio. Assim as democracias se deslegitimam e a crise de representação que surge disso acaba colocando em xeque a institucionalidade e o Estado de direito”, disse o líder argentino.

As palavras de Fernández soaram como uma crítica ao fato de que Milei defende medidas econômicas que foram utilizadas durante a última ditadura no país (entre 1976 e 1983) e que sua candidata a vice-presidente, Victoria Villarruel, ser uma apologista da ditadura. 

O presidente argentino completou dizendo que representa “um país que está celebrando este ano os 40 anos da recuperação da democracia. Um país que aprendeu em seu passado a dizer ‘nunca mais às violações aos direitos humanos’ e que promoveu, como política de Estado, o direito à memória, à verdade, e à justiça”.