Faltando menos de um mês para as eleições presidenciais argentinas, os candidatos dos três principais grupos políticos seguem contando com a preferência de cerca de um terço do eleitorado, portanto com chances matemáticas de vencer.
Sergio Massa (União pela Pátria, de esquerda) e Javier Milei (A Liberdade Avança, extrema direita) foram os que cresceram mais desde as eleições primárias, segundo os institutos de pesquisa. Mas Patricia Bullrich (Juntos pela Mudança, de direita) tem alguns trunfos para tentar recuperar o terreno perdido na reta final. A tendência que desponta até o momento é de que haverá segundo turno, possivelmente com a presença de Milei.
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Milei, um outsider ultraliberal que adota discurso contra a política, as instituições e fala em dolarizar a economia, entre outras propostas pouco convencionais, lidera as intenções de voto em todas as pesquisas recentes, mas isso não aparece em destaque na imprensa argentina.
Quem lê o jornal progressista Página 12 tem a sensação de que ele e Massa são favoritos para disputar o segundo turno, praticamente em igualdade de condições. Os diários mais conservadores, como Clarín e La Nación, oferecem mais estímulos para se pensar que Bullrich tem boas chances de tirar Massa da disputa no primeiro turno, que será realizado no dia 22 de outubro.
Nas oito pesquisas listadas pelo Página 12, Milei aparece em primeiro lugar, com uma vantagem sobre Massa que varia de 0,8% a 8%, e Bullrich em terceiro. Alguns dados chamam a atenção: todos eles têm mais reprovação que aprovação; a inflação é apontada como principal problema do país.
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O governo atual, de Alberto Fernández, tem 73% de imagem negativa - Massa é seu ministro da Economia e lançou recentemente medidas de impacto para melhorar a renda da população.
Neste domingo (24), houve eleição para governador em Mendoza e o vitorioso foi Alfredo Cornejo, da corrente política conhecida como radicalismo, a mesma de Patricia Bullrich — terceira vitória regional seguida dos radicais, após Santa Fé e Chaco. O radicalismo contabiliza que um total de dez governadores poderão estar alinhados com a campanha de Bullrich, o que pode representar um apoio significativo.
“Na qualidade de governador eleito, quero pedir que votem em Patricia na eleição nacional”, disse Cornejo. A candidata à presidência, que estava no palanque, aproveitou para reforçar sua estratégia de campanha, de tentar tirar votos de Milei. “Somos a única força com capacidade para derrotar o kirchnerismo”, discursou, referindo-se a Sergio Massa. Disse, ainda, que os argentinos precisam recuperar “o valor do seu dinheiro”, que as exportações aumentem e os impostos sejam reduzidos.
Ainda que Massa seja referido como o candidato do kirchnerismo, a própria Cristina Kirchner não tem empenhado seu capital político nele. Segundo artigo de Walter Schmidt no Clarín, durante ato de campanha no sábado ao lado de Massa, ela se referiu à crise econômica em terceira pessoa — embora seja vice-presidenta da República.
A aposta é que Cristina já contaria com uma provável vitória de Milei, depois da qual ela teria um triângulo de poder formado pelo governo da província de Buenos Aires (do seu aliado Axel Kicillof) e por forte presença no Congresso Nacional e no Legislativo de Buenos Aires, o que permitiria que fique bem posicionada no cenário político caso o governo de Milei seja implodido por um aprofundamento da crise. O colunista repara que, de forma semelhante, o ex-presidente Mauricio Macri também não tem se empenhado como poderia para que Bullrich ganhe a eleição.
Democracia em xeque
No contexto dessa disputa eleitoral marcada pelo desempenho até agora bem-sucedido de um candidato descolado da dita política tradicional, que costuma se manifestar publicamente de forma agressiva, o Centro de Opinião Pública da Universidade de Belgrano divulgou um estudo que mostra que 62% da população argentina considera necessária uma renovação profunda da classe política. E que 56% prefere uma liderança que imponha suas ideias com mão de ferro, em vez de se ater aos controles das instituições democráticas.
Edição: Patrícia de Matos