Teatro

CPI do MST boicota militância e lugares indicados pelo movimento durante diligência em assentamento no sul da Bahia

Dirigente do movimento classificou como 'teatro' visita dos deputados bolsonarista Ricardo Salles e Zucco a assentamento

Brasil de Fato | Prado (BA) |
O relator da CPI do MST, Ricardo Salles, acompanhado de agentes da Polícia Federal, impediu que assentados acompanhassem a diligência - Foto: MST

Integrantes da CPI do MST, liderados pelo presidente e pelo relator da comissão, os deputados federais Luciano Zucco (Republicanos-RS) e Ricardo Salles (PL-SP), respectivamente, iniciaram nesta quinta-feira (24), as diligências em áreas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no Sul da Bahia. 

No aeroporto, a comitiva de parlamentares foi recebida por Elivaldo da Silva Costa, ex-membro do movimento, conhecido como Liva do Rosa. Agora, o ex-militante é  ligado a grupos de empresários e vereadores bolsonaristas e seria um dos organizadores de ataques ao MST na região.

O gesto foi encarado como mais uma provocação de Salles ao MST. Na entrada do assentamento Jacy Rocha, área visitada pela CPI, no município de Prado, a militância esperava pelos deputados, e o movimento informou que não permitiria a entrada do ex-integrante. Os parlamentares recuaram, e Liva teve que ir embora.

Quando se aproximava da entrada do Jacy Rocha, Salles e Zucco optaram por outra entrada, distante de onde os moradores estavam concentrados. A fuga dos dois parlamentares pegou de surpresa os integrantes do movimento. Acompanhados de agentes da Polícia Federal, os parlamentares ordenaram que a diligência não tivesse acompanhamento dos sem-terra.

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“Foi mais um teatro, uma fake news, contra o Movimento Sem Terra, contra os movimentos sociais”, disse Evanildo Costa, da direção nacional do MST, que é assentado no sul da Bahia.

Segundo o MST, uma advogada que acompanhava a diligência e representa a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também foi impedida de acompanhar os deputados na visita ao assentamento.

“Os recursos públicos que poderiam estar sendo utilizados para resolver os problema do desemprego, solucionar o problema da reforma agrária, o problema da moradia, estão sendo gastos para organizar essas pessoas que cometem crimes, grilando terra, criando trabalho escravo e assassinando indígena e quilombola”, lamentou Costa.

Na comitiva estavam, também, os deputados federais Marcon (PT-RS) e João Daniel (PT-SE), da bancada de apoio ao movimento, que provocaram a CPI para que visitasse a escola Egídio Brunetto, referência na região e responsável pela alfabetização de 800 famílias.

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Porém, Zucco e Salles ignoraram o pedido, visitaram apenas dois lotes e foram embora, em direção a Itamaraju, município localizado a cerca de 50 km do assentamento. Lá, se encontraram com produtores rurais e participaram de um culto.

Nesta sexta-feira (25), os deputados da CPI visitarão o assentamento Rosa do Prado, onde atua o grupo de Liva. A expectativa é de que Salles e Zucco explorem a região com maior atenção do que fizeram no Jacy Rocha.

*Com informações de Pedro Stropasolas, de Prado (BA)

Edição: Geisa Marques