Antirracismo

Trabalhadoras domésticas marcam ato contra discriminação em frente a clube de elite de SP

Protesto em frente ao Harmonia, que restringe locais onde babás têm "permanência admitida", acontece neste sábado (12)

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Para a Federação das Domésticas SP, a atitude do clube é "discriminatória e preconceituosa" - Lela Beltrão/Repórter Brasil

O clube Sociedade Harmonia de Tênis, um dos mais elitizados da capital paulista, vai ser alvo de uma manifestação neste sábado (12) às 10h, convocada pela Federação Domésticas SP e o Sindicato dos Trabalhadores Domésticos do Município de São Paulo. Marcado para 10h, o ato "contra a discriminação dos clubes paulistas" acontece na entrada da instituição, no bairro dos Jardins. 

No início de agosto, os sócios do Harmonia receberam um comunicado com as regras do clube, segundo as quais as roupas de babás e enfermeiras "deverão ser obrigatoriamente de cor branca". No caso das babás, podem usar bermuda desde que até a altura do joelho e legging, se a camiseta branca – sem estampa ou transparência - tiver "comprimento próximo ao joelho". 

Os lugares de acesso também são restritos. Se estiverem cuidando de seus patrões infantis, as babás têm "permanência admitida" no parquinho, quiosque e vestiário. Se as crianças estiverem em aula ou atividade esportiva, "deverão permanecer à espera nos locais designados, não podendo utilizar as dependências de uso exclusivo dos sócios". 

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Se quiserem se alimentar, as trabalhadoras domésticas o podem fazer desde que acompanhadas das crianças. E "exclusivamente" nas mesas que ficam entre o quiosque e a piscina ou em frente ao balcão da lanchonete. Os restaurantes estão vetados, a não ser que as trabalhadoras estejam "acompanhadas das crianças e dos patrões". 


O chamado para o protesto circula nas redes sociais e faz menção ao conjunto dos clubes de São Paulo / Divulgação

Nesta sexta (11), integrantes do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos distribuíram panfletos convocando para a manifestação na 25 de março, praça da Sé, Santa Ifigênia e Anhangabaú, na região central de São Paulo.

Silvia Maria dos Santos, que preside a entidade, disse que recebeu o caso com "profunda indignação". "É inaceitável que nos dias de hoje aconteçam ainda essas coisas. Em solidariedade às babás e em defesa de seus direitos é que estamos nesse movimento".

"É uma oportunidade para que possamos mostrar nossa determinação em enfrentar a discriminação e promover um ambiente inclusivo e de respeito para as babás e para todas as profissões", pontuou Silvia. "Pedimos respeito e igualdade para nós, trabalhadoras", resumiu. 

A Federação Domésticas SP informou estar recebendo manifestações de trabalhadoras domésticas, em especial babás, que frequentam este e outros clubes paulistanos e se sentem "constrangidas com as exigências e privações". 

Em nota, a entidade sindical afirma que as restrições visam "demarcar aqueles que estão no local, mas que não pertencem à classe social dos associados, o que facilita e encoraja a prática de ações discriminatórias contra os empregados domésticos que ali estão exercendo seu trabalho".  

"Repudiamos essa atitude terrível justamente por entender que é uma conduta discriminatória que só reforça e valida a marginalização da categoria", afirma Nathalie Rosário, advogada da Federação Domésticas SP. 

"A gente está organizando trabalhadoras domésticas, carro de som e contamos também com o apoio da deputada Ediane [Maria, do PSOL], que representa a categoria doméstica na Frente Parlamentar", conta Rosário. 

"Vamos até lá fazer essa mobilização para mostrar que a categoria existe, tem voz, merece dignidade, respeito e tratamento igualitário. Não pode haver essa disparidade como há muito vem acontecendo", ressalta. 

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Procurado, o clube Harmonia disse entender que "essa manifestação parte de premissas e entendimentos equivocados em relação às regras internas e normas estatutárias que estabelecem condições para o acesso de todos os públicos, inclusive não-associados, como amigos e familiares de sócios". 

"A nossa história de mais de 93 anos como instituição não contempla qualquer prática ou ação que enseje preconceito e/ou discriminação com quaisquer pessoas, incluindo os acompanhantes de associados, que recebem o mesmo atendimento oferecido em nossas dependências", informou a nota. 

Edição: Thalita Pires