Antirracismo

Ato por justiça para Moïse foi realizado em igreja simbólica para população negra de Curitiba

Manifestação aconteceu no sábado (5), em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de São Benedito

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Manifestantes ocuparam a igreja em manifestação contra o preconceito religioso e pela valorização da vida - Foto: Giorgia Prates

No sábado (5), manifestantes saíram às ruas de Curitiba (PR) pedindo justiça para Moïse Kabagambe, assassinado no último dia 24, no Rio de Janeiro. O ato também lembrou o assassinato de Durval Teófilo Filho, homem negro assassinado pelo Sargento da Marinha Aurélio Alves Bezerra, também no Rio de Janeiro, no dia 2.

Leia aqui: No Rio de Janeiro, homem negro é morto por militar após ser confundido com assaltante

"Vivemos em um dos países mais racistas do mundo. E esse mesmo país tem a maior população negra fora da África. O que aconteceu com Moïse demonstra a estrutura, a violência racista que a gente tem que lidar cotidianamente", afirmou a vereadora Carol Dartora (PT).

Leia mais: "Quem agrediu Moïse foi movido pelo racismo", diz congolês que vive no Brasil há dez anos

Ela ainda lembrou que a xenofobia e o racismo são comuns na capital paranaense. "O que aconteceu com Moïse foi no Rio de Janeiro, mas aqui em Curitiba os imigrantes haitianos, angolanos, congoleses também sofrem a mesma xenofobia e a gente não vê essa indignação [contra o preconceito] em atitudes práticas, em atitudes antirracistas para superar essa doença da nossa sociedade", disse.


Manifestação começou por volta das 17h, no Centro da capital / Foto: Giorgia Prates

Relação histórica com a igreja

A manifestação foi organizada pelo coletivo Núcleo Periférico e aconteceu no Centro de Curitiba, no Largo da Ordem, em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de São Benedito.

Inaugurada em 1737, a igreja diante da qual aconteceu o ato foi construída por e para pessoas escravizadas, uma vez que a população negra era impedida de entrar em outras igrejas da cidade. O local foi escolhido pela relação histórica com a população negra curitibana.


Ato aconteceu em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de São Benedito / Foto: Giorgia Prates

O ato começou por volta das 17h. Pouco depois do início, o diácono responsável pela igreja solicitou que os manifestantes fossem para outro local, justificando que o ato poderia atrapalhar a saída dos presentes na missa que havia se encerrado.

Leia mais: Assassinato de Moïse é fruto de um país governado por um fascista e muitos milicianos, diz Lula

Como manifestação simbólica contra o preconceito religioso e pela valorização da vida, os manifestantes ocuparam a igreja. "Pacificamente, assim como entramos na igreja, saímos e seguimos com a manifestação, reivindicando políticas públicas para imigrantes e de combate ao racismo", ressaltou o vereador Renato Freitas (PT).


Manifestantes ocuparam a igreja, após a missa / Foto: Giorgia Prates

Mais tarde, a Arquidiocese de Curitiba emitiu nota afirmando que a manifestação ocorreu no mesmo horário da missa e que lideranças do grupo de manifestantes "instaram a comportamentos invasivos, desrespeitosos e grotescos."

Entre as lideranças que adentraram a igreja, Renato Freitas reafirmou que o local estava vazio quando da entrada dos manifestantes. "Nos surpreende que exaltar o amor e a valorização da vida em uma igreja cause mais indignação do que o assassinato brutal de dois seres humanos negros no Brasil", afirmou o vereador, em publicação nas redes sociais.

Fonte: BdF Paraná

Edição: Lia Bianchini