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Gangue reivindica autoria de assassinato de presidenciável Villavicencio; Lasso declara estado de exceção no Equador e mantém data de pleito

Grupo criminoso Los Lobos divulgou vídeo acusando o candidato assassinado de corrupção

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Como deputado, Villavicencio havia barrado neste ano um processo de impeachment contra o presidente Guillermo Lasso - wikiCommons

Horas após o assassinato do candidato à Presidência do Equador Fernando Villavicencio, a facção criminosa Los Lobos reivindicou a autoria do crime. O presidenciável foi morto com três tiros ao deixar evento na capital do país, Quito, no início da noite da quarta-feira (9).

Villavicencio é um dos poucos candidatos a acusar o governo de ligação com o crime organizado. Com oito mil integrantes, Los Lobos é o segundo maior grupo criminoso do Equador, atrás apenas de Los Choneros, do qual é uma dissidência.

Na semana passada, os Los Choneros - ligado ao narcotráfico - haviam ameaçado Villavicencio. No entanto, a autoria foi assumida pelo grupo rival em vídeo divulgado na internet.

 

 

"Toda vez que políticos corruptos não cumprirem suas promessas quando receberem nosso dinheiro, que é de milhões de dólares, para financiar sua campanha, serão dispensados."

O grupo ameaçou também outro presidenciável, o político e economista Jan Topic

"Você também, Jan Topic, mantenha sua palavra. Se você não cumprir suas promessas, você será o próximo."

Após o incidente, o presidente do país, Guillermo Lasso, declarou estado de exceção no país e afirmou que as eleições presidenciais estão mantidas para o próximo dia 20. Pelo menos seis pessoas já foram presas, suspeitas de envolvimento no assassinato. Um suspeito foi morto pela polícia logo após a morte de Villavicencio. 

A disputa eleitoral não tem um cenário claro, devido à pouca confiabilidade dos institutos de pesquisa, que apresentam grandes variações sobre a preferência do eleitorado. Em alguns, Villavicencio aparece como segundo colocado; em outras, como o último dos oito candidatos.

Quem é?

Villavicencio tinha 59 anos e era jornalista, deputado e ex-sindicalista. Foi conhecido como defensor de minorias indígenas e causas sociais e ambientais. 

Ele acusou por anos o ex-presidente Rafael Correa de corrupção, sendo  condenado à prisão por "difamação". À época, chegou a fugir para o Peru.

Nos últimos anos, a relativa estabilidade que marcava o cenário político do país mudou com o aumento da presença de gangues colombianas e mexicanas, ligadas ao tráfico internacional de cocaína. 

Como legislador, este ano Villavicencio barrou um processo de impeachment contra o presidente Lasso, precipitando o atual pleito. 

A acadêmica equatoriana,  pesquisadora do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social Pilar Troya Fernández disse ao Brasil de Fato acreditar que o assassinato foi "queima de arquivo, já que mataram a pessoa que o matou".

"Além disso, o objetivo do incidente pode ser sujar o processo eleitoral, culpar o correismo (seguidores de Rafael Correa) e até criar condições para uma intervenção militar".

Edição: Geisa Marques