Democracia

Eleições na Espanha: coalizão de direita coloca em risco conquistas democráticas do país

Para conseguir maioria no Parlamento, PP pode repetir aliança com Vox

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Alberto Nunez Feijoo, do Partido Popular (PP), em um discurso no seu último comício antes das eleições - MIGUEL RIOPA / AFP

Neste domingo (23), os espanhóis encaram as eleições gerais. O pleito do país traz consigo o risco de a extrema direita chegar ao poder, décadas após a ditadura franquista. Isso porque a legenda mais tradicional da direita espanhola, o Partido Popular (PP), a fim de eleger Alberto Núñez Feijóo, pode unir forças com o Vox, representante da ultra direita, para tentar tirar do poder o atual primeiro-ministro Pedro Sánchez, do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE).

A coalizão entre Vox e PP aconteceu pela primeira vez na eleições municipais e regionais, que ocorreram em maio deste ano. Com isso, a direita e a extrema direita conquistaram o governo de várias regiões que eram lideradas pelo PSOE. Na ocasião, o PP obteve 6,9 milhões de votos (31,53%), contra 6,2 milhões (28,14%) do PSOE. Já o Vox teve 1,5 milhão de votos, e conseguiu triplicar seu número de vereadores, saindo de 500 para mais de 1.700.

O PSOE corre contra o tempo para não perder o governo. A última pesquisa de intenções de votos na Espanha revelou que o PP está à frente na corrida eleitoral. Os principais institutos de pesquisa da Espanha divulgaram, na última segunda-feira (17), que o PP tem a chance de conquistar de 131 a 151 assentos na Câmara dos Deputados, de 350 membros. Já o PSOE pode chegar a ter de 98 a 115 assentos.

Na Espanha, cada partido apresenta uma lista de candidatos a deputados. Depois das eleições, é mensurado o número de votos que cada legenda recebeu, para chegar ao número de cadeiras conquistadas. Para o Senado, o voto é direto.

Visando a maioria absoluta na Câmara, alcançada com 176 assentos, o PP tem avaliado até mesmo uma aliança com o extremista Vox, que tem como líder Santiago Abascal. O que, segundo Paulo Velasco, professor de Política Internacional da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), seria o equivalente a "vender a alma ao diabo".

"É uma questão de sobrevivência política. O PP não tem condições de chegar à maioria absoluta no Parlamento. A questão que fica é: o que ele irá ceder para o Vox?", questiona Velasco.

Para o professor, o risco está no espaço de governabilidade que será oferecido para o partido extremista.

"É uma coligação que não tem um equilíbrio fácil porque são propostas incompatíveis até mesmo com a direita tradicional espanhola, que é democrática por definição", explica Velasco.

Dentre os projetos que o Vox defende estão a alteração de legislações que tratam da igualdade e violência de gênero, lei do aborto e união entre pessoas do mesmo sexo. O partido também defende sair do Acordo de Paris, tratado sobre mudanças climáticas aderido por toda União Europeia. Para o Vox, o acordo é uma regulação das "elites globalistas" que interferem na prosperidade dos espanhóis.

"Muitos dos projetos do Santiago Abascal ficam no limiar do que é a atuação em base democrática. Muitos dos que votam no PP não querem ver o partido se enveredando em um caminho sombrio, dentro das propostas que o Vox propõe", afirma Velasco.

Edição: Thales Schmidt