Juros em debate

Senado aprova diretores do BC indicados por Lula em meio a pressão por queda da Selic

Gabriel Galípolo e do Ailton de Aquino Santos poderão votar na próxima reunião do Copom, no início de agosto

Brasil de Fato | Curitiba (PR)* |

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Líder do governo, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), cumprimenta o indicado para diretor do BC, economista Gabriel Galípolo - Pedro França/Agência Senado

O Senado Federal aprovou nesta terça-feira (4) as duas indicações feitas pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a diretoria do Banco Central (BC). O economista Gabriel Muricca Galípolo, ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda, está agora apto a assumir o cargo de diretor de Política Monetária; já o advogado Ailton de Aquino, servidor do BC, será diretor de Fiscalização do órgão –Aquino, aliás, será o primeiro negro a chegar a diretoria do BC.

Os dois farão parte do Comitê de Política Monetária (Copom), que define o patamar da taxa básica de juros, a Selic. Com eles no órgão, cresce a expectativa de que a Selic seja reduzida no início de agosto, quando o Copom volta a se reunir.

Galípolo foi aprovado com 39 favoráveis, 12 contra e uma  abstenção. Aquino teve 42 votos favoráveis, 10 contra e uma abstenção.

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A Selic está hoje em 13,75% ao ano. É a maior taxa básica de juros real do mundo, segundo o Ministério da Fazenda –juros descontados a inflação.

O presidente Lula –assim como empresários e trabalhadores– tem cobrado a redução da Selic. A taxa mais baixa tende a incentivar investimentos e financiamentos, contribuindo com a retomada do crescimento da economia nacional.

Votação e sabatina

A indicação de Galípolo para o BC foi aprovada na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado por 23 votos a favor e dois contra; e Aquino com 24 votos favoráveis e um contrário. Foi a aprovação da CAE que encaminhou a indicação dos dois ao plenário da Casa.

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Na própria CAE, Galípolo e Aquino foram sabatinados e questionados sobre a taxa básica de juros, mas evitaram adiantar seus votos no Copom.

Galípolo, contudo, disse que já há um esforço conjunto das instituições para redução da Selic. As expectativas de agentes do mercado, aliás, apontam também para a redução.

“O que já vem acontecendo com a taxa de juros futura sinaliza o mercado vendo esse esforço do Legislativo, do Executivo, do Judiciário e do próprio BC para as taxas cedem ao longo do tempo”, afirmou ele.

A senadora Teresa Leitão (PT-PE) pediu uma queda dos juros cobrados da população. Galípolo disse que é favorável à redução.

“É óbvio, como a senadora bem colocou, que se a gente conseguir taxas de juros mais baixas de maneira sustentável e duradoura seria o principal impacto. Crédito é renda para a população.”

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Já Aquino afirmou que a aprovação do novo arcabouço fiscal também pode contribuir com a queda da taxa básica de juros e dos juros em geral.

“A última ata do comitê [Copom], deixa claro que o arcabouço fiscal reduz, substancialmente, as incertezas em torno do risco fiscal. Então, a gente aposta muito no arcabouço fiscal, na redução das incertezas, que pode ser um indutor relevante para a redução das taxas de juros no devido momento”, afirmou.

Outras opiniões

Aquino afirmou que o trabalho de fiscalização do BC está entre os mais bem avaliados do mundo. Mesmo assim, pediu a contratação de mais servidores para que o órgão possa reforçar o controle de criptomoedas, mercado de ouro e combate à fraudes.

Ele e Galípolo não se posicionaram sobre a lei sancionada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que concedeu autonomia ao BC. Disseram que essa é uma decisão política consolidada e precisa ser encarada como soberana.

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Galípolo ressaltou que a opinião de nenhum economista pode ser mais importante do que a opinião da população expressa nas urnas, sinalizando assim que o projeto econômico do novo governo precisa ser levado em consideração pelo BC.

“Por muito tempo, economistas utilizaram a necessidade de uma discussão técnica para tentar interditar o debate econômico. Mas não cabe a nenhum economista impor o que ele entende seu destino econômico do país à revelia da vontade democrática.”

Currículos

Gabriel Galípolo nasceu em São Paulo e graduou-se em economia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em 2004, onde também obteve o título de mestre em economia política, em 2008. No campo acadêmico, foi professor da PUC-SP e do MBA da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e London School of Economics and Political Science.

Em relação à trajetória profissional, entre 2007 e 2008, Galípolo atuou, no estado de São Paulo, na Secretaria de Economia e Planejamento e na Secretaria dos Transportes Metropolitanos. Foi sócio-diretor da Galípolo Consultoria, de 2009 a 2022, onde coordenou e estruturou projetos e estudos de viabilidade econômico-financeira em diversos setores da economia. Foi presidente do Banco Fator, de 2017 a 2021, e conselheiro da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) em 2022. Até junho deste ano, foi  secretário-executivo do Ministério da Fazenda.

Natural de Jequié, no sudoeste da Bahia, Ailton de Aquino Santos é advogado e servidor de carreira do BC desde 1998, onde já ocupou diversas funções, e atualmente é o auditor-chefe da instituição.  Ele também já ocupou o cargo de chefe do departamento de contabilidade, orçamento e execução financeira do BC.

O indicado tem dupla graduação, em ciências contábeis e direito, respectivamente, na Universidade do Estado da Bahia e no UDF Centro Universitário. Também tem pós-graduação em ciências contábeis pela Universidade do Estado da Bahia (1997), e três especializações: contabilidade internacional, engenharia econômica de negócios e direito público.

Edição: Rodrigo Durão Coelho