Guerra na Ucrânia

Para correspondente, Grupo Wagner quis garantir sobrevivência, mas abriu crise grave na Rússia

Grupo mercenário atua militarmente na Ucrânia para a Rússia, mas desentendimentos com Moscou ameaçaram legitimidade

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Membros do grupo Wagner se preparam para deixar o quartel-general do Distrito Militar do Sul para retornar à sua base em Rostov. - ROMAN ROMOKHOV / AFP

Na manhã desta segunda-feira (26), o Ministério da Defesa da Rússia divulgou um vídeo que mostra o chefe da pasta, Sergei Shoigu, visitando um posto de comando militar russo. Essa foi a primeira aparição pública de Shoigu desde a rebelião militar do grupo Wagner, exército mercenário que atua na Ucrânia ao lado das tropas russas.

Na última sexta-feira, o chefe do grupo Wagner, Yevgueny Prigozhin, acusou o exército russo de atacar propositalmente bases do grupo, e iniciou o que chamou de “marcha pela justiça”.

Leia mais: Rebelião militar: o que está acontecendo na Rússia? 

Na manhã de sábado, o Wagner tomou as instalações militares da cidade portuária russa de Rostov, perto da Ucrânia, e anunciou que estava marchando em direção a Moscou. O presidente russo, Vladimir Putin, classificou a rebelião de “punhalada nas costas”. 

A tensão só arrefeceu na tarde do sábado, com mediação do presidente da Bielorrúsia. O líder do grupo Wagner anunciou que as tropas voltariam para as bases para evitar derramamento de sangue russo. Na segunda-feira, Moscou desmontou a operação de defesa montada na cidade desde sábado.

Para analisar a rebelião na Rússia e quais podem ser as consequências para a guerra na Ucrânia, o Central do Brasil desta segunda-feira (26) conversou com o repórter Serguei Monin, correspondente para a Rússia do Brasil de Fato.

Monin explicou que o grupo Wagner ganhou poder político e capilaridade na invasão da Ucrânia. O grupo havia atuado na Síria e no Mali, e durante a crise anterior na Ucrânia, desde 2014.

“O grupo Wagner atuava no leste ucraniano como forma da Rússia não interferir diretamente, mas garantir seus interesses políticos e militares”,  afirmou o correspondente.

A guerra atual gerou ganho político e financeiro ao grupo Wagner. “Inclusive no início deste ano foi a primeira vez que o ministério da Defesa da Rússia reconheceu oficialmente a atuação do grupo na guerra da Ucrânia, parabenizando pelo controle de certas cidades”, disse o jornalista.

O ocorrido do final de semana teve elementos de chantagem política sobre o Kremlin, segundo Serguei Monin. “Como ele [Prigozhin] disse, foi um protesto e não tentativa de derrubar o governo do país. O que mostra que foi mais uma espécie de protesto para reivindicar a sobrevivência do grupo Wagner e a sua legitimidade”, disse ele.

“O frisson do motim, da rebelião foi apaziguado, no entanto os efeitos políticos da guerra a gente ainda vai ver por muito tempo porque isso deflagrou uma grande crise de fato.”

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Edição: Rodrigo Durão Coelho