Enquanto rebeldes do Grupo Wagner avançam em direção à capital russa, Moscou, neste sábado (24), os olhos do mundo se voltam para o exército mercenário que ganhou notoriedade durante a guerra na Ucrânia. Comandado pelo empresário Yevgeny Prigozhin, as tropas foram decisivas na conquista de territórios ucranianos, como a cidade de Bakhmut. Mas a atuação do grupo não começou com o conflito iniciado em 24 de fevereiro de 2022. O Wagner vem atuando em conflitos na Síria e em países africanos desde 2015.
A origem do grupo remonta à crise na Ucrânia em 2014, quando uma forte onda de protestos no país levou a um golpe de Estado e ao conflito armado na região de Donbass, no leste ucraniano. A entrada do grupo de Prigozhin em cena estaria ligada ao encobrimento da interferência russa nos assuntos da Ucrânia.
“O papel de iniciativas privadas [em conflitos] aumentou em 2014 com os acontecimentos na Ucrânia e o surgimento de empresas militares privadas, e suas iniciativas estavam ligadas ao uso dos princípios de ‘guerra híbrida’, que se baseiam no fato de que as partes militares regulares não participam de ações militares”, afirmou o pesquisador Pavel Usov, chefe do Centro de Análise e Previsão Política da Bielorrússia, em entrevista ao Brasil de Fato em abril deste ano.
No entanto, as ações do Wagner e de outros grupos militares privados eram encobertas pelo governo russo. Em 1º de maio de 2022, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, negou que o Grupo Wagner operasse no território da Ucrânia, afirmando que isso seria desinformação de Kiev.
Foi só em janeiro de 2023 que o governo russo admitiu a atuação do Wagner. O próprio Ministério da Defesa russo pela primeira vez reconheceu oficialmente os méritos dos mercenários de Prigozhin no campo de batalha. Em particular, a pasta destacou “a bravura” dos combatentes do Wagner em meio ao anúncio da tomada da região de Soledar, em Donbass, pelas forças russas.
Soldados recrutados na prisão
Uma das táticas do Grupo Wagner é recrutar soldados em prisões russas. Criminosos condenados por crimes graves recebem a promessa de anistia da pena após seis meses no front. Muitos, no entanto, nunca chegam a aproveitar a liberdade. Segundo informação divulgada pelo próprio chefe do grupo, Yevgeny Prigozhin, em maio deste ano, quase 10 mil prisioneiros recrutados haviam morrido na Ucrânia.
“Eles são jogados em grandes ondas para as posições ucranianas e inauguram alguns novos pontos de combate, na prática, as perdas são em centenas. Ou seja, o que acontece lá agora mostra que aqueles que servem ao grupo Wagner não têm valor nenhum, nem militar, nem de quadros, é simplesmente material descartável. A tarefa é simplesmente esgotar, chamar o fogo para si, e aí, em seguida, a artilharia militar avança sobre as posições ucranianas”, explicou o pesquisador Pavel Usov.
Em janeiro deste ano, foi revelado um relatório da agência de inteligência militar do Ministério da Defesa da Ucrânia sobre as táticas das operações de combate do batalhão Wagner na Ucrânia. O estudo, realizado inclusive a partir de escutas telefônicas, apontava uma "indiferença brutal de Prigozhin às baixas", com execuções de combatentes que tentam se render aos ucranianos ou que realizam retiradas não autorizadas.
A análise ucraniana afirmava que as táticas de Wagner "são as únicas eficazes para as tropas mal treinadas e mobilizadas que constituem a maioria das forças terrestres da Rússia".
Edição: Raquel Setz