O governo do presidente dos EUA, Joe Biden, recebeu mais um pedido para aliviar as sanções à Venezuela. Desta vez, a demanda veio de seu próprio partido, após congressistas democratas pedirem uma revisão no bloqueio implementado contra o país sul-americano por governos anteriores.
Segundo o jornal Washington Post, deputados e senadores do Partido Democrata enviaram uma carta a Biden argumentando que as sanções econômicas estimularam o fluxo migratório de venezuelanos aos EUA.
"Especialistas concordam amplamente que sanções extraterritoriais dos EUA - expandidas a níveis sem precedentes por seu antecessor [Donald Trump] - são um fator predominante que contribui para o atual aumento da migração", diz a carta citada pelo jornal.
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Ainda segundo o periódico estadunidense, os parlamentares pediram para o presidente agir "rapidamente para eliminar as sanções econômicas fracassadas e indiscriminadas que foram impostas pelo governo anterior".
A pressão vem um dia antes da revogação do chamado Título 42, medida instituída pelo ex-presidente Donald Trump que, sob o pretexto de conter a disseminação da covid-19, implementou uma política de deportação rápida que impedia, inclusive, pedidos de asilo.
Com o fim da prerrogativa sanitária, Washington teme um aumento no fluxo migratório, já que as autoridades serão obrigadas a acatar pedidos de refúgio e asilo que, enquanto não são resolvidos pela Justiça, obrigam que os migrantes aguardem em instalações estatais em cidades fronteiriças.
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Regiões na fronteira como a cidade de El Paso, no Estado do Texas, vivem situações de emergência, já que entidades estatais e não-governamentais de auxílio a migrantes não conseguem atender as milhares de pessoas que aguardam o fim do Título 42 para tentar permanecer no país.
Sanções como arma
Os EUA vêm impondo sanções à Venezuela desde 2014, mas foi após 2017 que essas medidas começaram a atacar setores estratégicos da economia do país. Primeiro foi instituído por Trump um bloqueio financeiro que praticamente congelou a dívida externa venezuelana e impediu que o governo de Nicolás Maduro negociasse títulos e empréstimos no mercado internacional.
Em 2019, o alvo foi a PDVSA, a empresa petroleira estatal da Venezuela, principal responsável pelos ingressos em dólares do país. As sanções impostas pela Casa Branca asfixiaram a indústria, que produzia cerca de 3 milhões de barris por dia em 2012 e passou a produzir apenas 200 mil barris diários em 2020.
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A crise no setor energético foi um dos principais fatores que contribui para uma redução de mais de 70% no PIB do país nos últimos 10 anos. Com a falta de dólares provenientes da renda petroleira, uma grave crise cambial tomou conta do país e atirou a Venezuela em uma espiral inflacionária que reduziu salários e estimulou ondas migratórias de milhões de venezuelanos fugindo da crise. Segundo dados da ONU, mais de 5 milhões de pessoas já deixaram o país desde 2014.
Um dos principais destinos de migração foi a vizinha Colômbia, país que mais recebeu venezuelanos nos últimos anos. Diferente de seu antecessor de direita Iván Duque, o governo do presidente Gustavo Petro já alertou para os riscos humanitários do alto fluxo de migrantes no país e passou a ser uma das principais vozes contra as sanções na América do Sul.
Em sua visita a Washington em abril, Petro se reuniu com Biden e pediu que o presidente eliminasse o bloqueio contra a Venezuela. Além disso, o mandatário colombiano chegou a convocar uma conferência em Bogotá que reuniu 20 países, incluindo os EUA, para discutir o fim das sanções.
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No setor privado, também há agentes interessados em alívios no bloqueio, como é o caso da gigante Chevron, da italiana Eni e da espanhola Repsol, todas do ramo energético. Com a crise de demanda nos combustíveis gerada pela guerra na Ucrânia, as empresas passaram a considerar um retorno de atividades em território venezuelano, mas sanções impedem a maioria das operações.
No final do ano passado, Washington permitiu que a Chevron voltasse à Venezuela para reativar as quatro plantas mistas que a empresa opera em conjunto com a estatal PDVSA, embora as condições ainda sejam muito limitadas em termos financeiros.
Já as europeias Eni e Repsol conseguiram uma licença dos EUA que permitia a retomada de negociações com a Venezuela, mas que impedia qualquer tipo de pagamento à PDVSA por produtos petroleiros. A ideia era que Caracas pudesse vender barris e derivados às empresas em troca de amortizações de parcelas de dívidas que a Venezuela possui. O esquema foi recusado pelos venezuelanos.
Edição: Rodrigo Durão Coelho