O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta segunda-feira (23) os ataques de forças de direita contra a Venezuela e disse que o ex-deputado Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente do país, foi "abominável para a democracia".
As declarações foram dadas durante coletiva de imprensa na Casa Rosada, sede do governo argentino, em Buenos Aires, quando o mandatário foi questionado sobre uma possível reunião com Maduro que estava prevista para esta segunda-feira.
"Eu vejo muita gente pedir compreensão ao [presidente Nicolás] Maduro, mas essas pessoas se esquecem de que eles fizeram uma coisa abominável para a democracia que foi reconhecer um cara que não era presidente, que não tinha sido eleito, que foi o Guaidó. Esse cidadão ficou vários meses exercendo papel de presidente sem ser presidente", disse.
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Ao lado do presidente argentino Alberto Fernández, o petista também criticou o roubo de bens do Estado venezuelano no estrangeiro pelo setor da oposição ligado a Guaidó. "Até as reservas de ouro da Venezuela depositadas no banco inglês foi pra esses cara [Guaidó] que foi dada a garantia desse dinheiro, então eu fico me perguntando quem é que está errado?", questionou.
Lula condenou o bloqueio econômico imposto pelos EUA contra o país e afirmou que "para resolver o problema da Venezuela é com dialogo e não com bloqueio, vamos resolver com diálogo e não com ameaças de ocupação e ofensas pessoas".
O presidente ainda disse esperar que as relações diplomáticas entre os países seja restabelecida em breve e que os serviços consulares sejam reativados.
"Eu espero que em dois meses tenhamos resolvido a normalidade diplomática com a Venezuela e daqui alguns meses a Venezuela esteja se recuperando economicamente e que o povo venezuelano que está fora da Venezuela possa voltar, e o povo brasileiro que está na Venezuela possa voltar ao Brasil", disse.
As relações diplomáticas com o país vizinho foram rompidas em 2020 pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Durante seu mandato, o Brasil adotou uma postura hostil em relação ao governo do presidente Nicolás Maduro e se alinhou à estratégia do ex-mandatário estadunidense Donald Trup para tentar derrubar o chavista do poder.
Encontro com Maduro
Segundo a agenda do presidente brasileiro, Lula tinha uma reunião bilateral marcada com Maduro nesta segunda-feira, em Buenos Aires, onde ambos estariam para a cúpula da CELAC. Entretanto, o compromisso foi retirado da agenda e o petista disse na coletiva que ele não faria mais o encontro.
Minutos depois, a Venezuela, por meio de nota oficial, confirmou o cancelamento da viagem do presidente venezuelano à Argentina e culpou "um plano elaborado pela direita neofascista" para agredir a delegação do presidente.
"[Eles] pretendem montar um show deplorável a fim de perturbar os efeitos positivos de tão importante encontro regional e assim contribuir para a campanha de descrédito - já fracassada - que se empreendeu contra nosso país no império norte-americano", disse o país.
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Desde a semana passada, setores da direita e da extrema direita argentina se mobilizavam para boicotar a ida de Maduro ao evento. Partidos e organizações ultradireitistas chegram a convocar protestos e acionar ONGs de direitos humanos para inibir a visita.
A ex-ministra de Segurança no governo de Mauricio Macri e pré-candidata presidencial, Patricia Bullrich, chegou a comparar o presidente venezuelano com o ditador chileno Augusto Pinochet ao pedir que Maduro fosse preso ao desembarcar no país.
Nesta segunda-feira, o próprio presidente argentino rechaçou as declarações desses setores da direita e reafirmou que a Argentina, país que preside temporariamente a CELAC, não tinha intenções de vetar nenhum participante da cúpula.
Edição: Thales Schmidt