O turismo é a principal atividade econômica em Cuba. Suas praias paradisíacas e paisagens naturais foram incluídas este ano pelo The New York Times em sua lista de 52 lugares recomendados para viajar ao redor do mundo. Ao mesmo tempo, o Travelers' Choice Awards, uma lista anual feita pelo site de viagens Tripadvisor, colocou Cuba entre os "destinos que estabelecem tendências" deste ano.
Ano a ano, milhares de pessoas de todo o mundo decidem visitar o país, sua cultura, sua história e seu povo. Mesmo apesar de todas as sanções que são impostas para dissuadir potenciais turistas. De fato, muitas das sanções que compõem o bloqueio dos EUA têm como objetivo enfraquecer o turismo para a ilha. Restrições como a proibição de transações financeiras, sanções contra navios de cruzeiro que chegam às costas cubanas ou dificuldades na obtenção de vistos para aqueles que visitam a ilha são apenas alguns exemplos.
As restrições de viagens impostas pela pandemia trouxeram problemas para a economia de Cuba. Este ano, segundo o Ministro do Turismo, Juan Carlos García Granda, o Estado espera atingir a cifra de 3,5 milhões de turistas internacionais. Isto seria quase 2 milhões de pessoas a mais do que em 2022, uma meta necessária para reativar a economia a níveis pré-pandêmicos.
O turismo, por sua vez, é a principal fonte de dólares para uma economia que vem mudando a um ritmo vertiginoso. Nos últimos anos, a legislação cubana aprovou a existência de micro, pequenas e médias empresas privadas, conhecidas pela sigla "Mipymex". Isto levou a uma redução significativa no emprego estatal, que foi absorvida por estas companhias privadas. Atualmente, o Diretor-geral de trabalho e previdência social, Ariel Fonseca, estima que 33% dos trabalhadores estão em espaços não estatais. Muitos deles dependem de atividades turísticas, tais como restaurantes, casas alugadas, guias turísticos, etc.
Suíte Havana
O turismo nem sempre ocupou o lugar central na economia cubana. Após o colapso do bloco socialista na Europa Oriental, durante o chamado "período especial", Cuba ficou completamente isolada economicamente. Seus parceiros comerciais e financeiros haviam desaparecido da noite para o dia, produzindo uma grave recessão econômica que contraiu o PIB em 36% entre 1990 e 1993. Durante aqueles anos, o governo de Fidel Castro decidiu abrir o turismo na ilha em busca de uma nova fonte de renda. Para este fim, foi construído um enorme complexo hoteleiro - majoritariamente estatal.
Ao mesmo tempo, todo um conglomerado de economia popular foi tecido em torno desses investimentos. Foi nessa época que muitas pessoas começaram a abrir suas casas para hospedar estrangeiros.
"As pessoas que começaram isto foram as pessoas que viviam ao redor dos hotéis. E eles começaram a alugar para turistas, muitas vezes nem mesmo por dinheiro", diz Yolanda Tacaronte, uma das primeiras a começar a alugar quartos em sua casa em meados dos anos 1990. "Foi simplesmente porque aqueles turistas vieram, eles queriam saber como os cubanos viviam, como eles comiam", diz Tacaronte ao Brasil de Fato.
"Naquela época não se podia ir às lojas para turistas, que estavam em moeda estrangeira. Então, os estrangeiros iam comprar coisas nessas lojas e cozinhavam para toda a família. Portanto, não era cobrado nada. Depois, normalizou-se e os turistas começaram a ser cobrados. Mas isto se tornou extenso e o governo percebeu que havia um fluxo de turismo que estava fugindo dos hotéis e indo para casas particulares. Assim, o processo é regularizado, impostos e licenças são aplicados. E agora é mais algo parecido com a forma como é feito no mundo", acrescenta Yolanda.
Mas, além de ganhar renda extra, aqueles que abrem suas casas para estrangeiros muitas vezes encontram outras motivações.
"Acho que receber pessoas é conhecer. É como viajar. É uma forma de conhecermos. Conhecer os países, as cidades, os costumes, o que as pessoas pensam... em outras palavras: a mesma coisa que os turistas fazem, mas ao contrário. A maioria das pessoas fala e faz perguntas. Nós também. Por exemplo, eu nunca vi neve e muitas pessoas me dizem que seus pais nunca viram o mar. E então se pensa, se compara, se conhece" completa Barbaro Estrada, o marido de Yolanda.
Conversar, conhecer e compartilhar são frases que surgem quando cubanos são perguntados sobre os motivos de receber estrangeiros. Ao mesmo tempo, a curiosidade dos turistas pelo que é diferente é palpável quando se anda por Havana. Como nos diz Yolanda, "Cuba não se parece com nada mais. Algumas pessoas vêm para ver a diferença. Algumas pessoas vêm para criticar. Algumas pessoas vêm com uma ideia romântica de socialismo e quando chegam aqui dizem que este não é o socialismo em que tinham pensado. Ou o contrário: pensaram que era pior e descobriram que há muita tranquilidade, muita igualdade".
Free Tour Revolución
Mas as conversas nem sempre são fáceis e os estereótipos sobre a ilha aparecem. José Enrique González faz um dos passeios mais populares da capital, promovido através da plataforma de turismo gratuito GuruWalk. "Pepe" como a maior parte das pessoas o conhece, dá sentido e reflete: "no final, os preconceitos das pessoas não são nada mais que a informação que as pessoas acessam, a mídia que consomem".
Mas sem se resignar, Pepe é rápido para deixar claro: "Sempre digo a todos os turistas quando vêm aqui que a primeira coisa a fazer é parar de comparar seus países com Cuba. Porque não se pode comparar o que é diferente. É simples. E cada país tem suas próprias peculiaridades. Você vem a Cuba para ouvir. Caso contrário, pode-se ir a uma praia para tomar sol. Se você vem a Cuba e quer conhecer Cuba, você tem que ouvir. Ouça todas as opiniões. A outra coisa que você não pode perder é caminhar. Porque muitas pessoas vêm em um táxi e não saem do táxi e do hotel. Você tem que suar, tem que tomar sol, tem que andar. Se você vem para entender Cuba, você tem que ouvir as pessoas com a mente aberta. Porque se você vier com a mentalidade de confirmar o que você já acredita, você nunca entenderá Cuba."
Free Tour Revolución é o nome que José Enrique escolheu para sua viagem histórica. Um tour pelas ruas de Havana falando sobre a história e a atualidade cubana. Haydée Borges, uma turista brasileira, escolheu passar seu último dia em Havana ouvindo a excursão de Pepe. É a primeira vez que ela e um grupo de amigos que a acompanham visitam a ilha. Quando perguntados como imaginavam Cuba, não hesitam em responder que "é muito diferente do que imaginávamos, tínhamos uma idéia, mas quando chegamos, era muito diferente. De uma boa maneira. Foi muito bonito vir".
Edição: Thales Schmidt e Patrícia de Matos