O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) encerra neste sábado (15) sua visita de quatro dias à China. Sai de lá com 15 acordos de cooperação com o país asiático assinados com o presidente chinês, Xi Jinping.
A China é o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009, e uma parte dos acordos assinados prevê a intensificação dessa relação comercial. Dois deles tratam de forma bem específica de novos procedimentos para exportação de produtos de origem animal do Brasil para o mercado chinês. Um, inclusive, prevê a implementação de certificação eletrônica de produtos de origem animal para facilitação desse tipo de comércio, o que interessa ao agronegócio.
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Carne bovina congelada foi o quarto produto mais exportado do Brasil para a China em 2022, atrás de soja, minério de ferro e petróleo, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Carne suína e de frango também estão entre os dez produtos mais vendidos.
Nenhum dos dez produtos mais exportados pelo Brasil à China é manufaturado. E esses dez produtos correspondem a quase 90% de toda exportação nacional para o país.
Por sua vez, entre os dez produtos mais importados pelo Brasil da China, oito são industrializados.
Bom dia, Brasil! Assinei agora com o presidente Xi Jinping acordos entre nossos países, para avançarmos em áreas como energias renováveis, indústria automotiva; agronegócio, linhas de crédito verde, tecnologia da informação, saúde e infraestrutura. 🇧🇷🤝🇨🇳
— Lula (@LulaOficial) April 14, 2023
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Reindustrialização
Buscar um equilíbrio na qualidade de produtos comercializados entre Brasil e China foi um dos objetivos de Lula em sua viagem. Seu novo governo promete reindustrializar o Brasil. A China pode contribuir com isso instalando fábricas de suas empresas aqui, por exemplo.
O economista Bruno de Conti, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisador Centro de Estudos Brasil-China (Cebc), disse que houve acordos visando investimentos chineses no Brasil. Mas que eles são genéricos, como costumam ser esses documentos.
"Havia muita expectativa em relação a essa viagem por parte do governo. Neste contexto de marasmo econômico no Brasil, viu-se a China como uma solução", disse ele. "Mas os memorandos são sempre muito genéricos. Não saem deles o que muita gente esperava."
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Outras áreas
De Conti destacou que houve avanços para compartilhamento de informações aeroespaciais e construção de um satélite conjunto. Disse também que, para além da economia, o governo brasileiro firmou um acordo interessante com o governo chinês para combate à pobreza.
"O acordo fala sobre o esforço de construir uma aliança global contra a pobreza, contra a fome", disse. "A gente tem um mundo para aprender com a China nesse aspecto. Ela tem uma população de 1,3 bilhão de habitantes e conseguiu reduzir muito a pobreza."
"Acho que foi interessante, de maneira geral, pois incluiu aspectos além dos comerciais, como associados à Ciência e Tecnologia", ratificou o economista Célio Hiratuka, também professor da Unicamp e coordenador do Cebc.
Reciprocidade
Pedro Faria, economista e pesquisador do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ressaltou o tom de reciprocidade dos acordos entre Brasil e China, o que é positivo.
"Você tem a perspectiva de trocas, de compartilhamento. São países iguais estabelecendo cooperação", explicou. "Relações com os Estados Unidos e a União Europeia são muito desiguais. Eles fazem exigência e nós buscamos financiamento. Os memorandos com a China deixam claro que são nações irmãs que querem crescer juntas."
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Faria disse que essa relação amistosa entre Brasil e China serve também como um posicionamento geopolítico do Brasil, que reforça sua independência frente às posições defendidas pelos Estados Unidos e União Europeia. O economista disse que a imprensa das potências hegemônicas lamentou a aproximação entre Brasil e China.
"Reportagens do Financial Times e do Washington Post notaram a diferença entre a visita do Lula aos Estados Unidos e a visita do Lula à China", descreveu o professor.
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A economista Diana Chaib, que estuda as relações entre China e Brasil num programa de doutorado do Cedeplar-UFMG, também vê peso geopolítico na visita de Lula à China. Isso, segundo ela, tem a ver também com os planos econômicos dos dois países.
"Na viagem foi reforçada a proposta de buscar um comércio entre ambos os países em moedas locais, e isso é um ataque claro de Lula à hegemonia do dólar. Coloca o Brasil na 'linha de tiro' do imperialismo", alertou Diana.
Edição: Nicolau Soares