A presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), Dilma Rousseff, recebeu o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a cerimônia de posse à frente do banco. Essa foi a primeira atividade da agenda oficial do mandatário em sua visita de Estado à China.
Lula e Dilma realizaram uma reunião a portas fechadas com diretores da instituição financeira antes de dar início à cerimônia. Primeira a discursar, Dilma, que foi uma das fundadoras do banco dos Brics, falou sobre a necessidade de ampliar a capacidade da instituição.
"Está sendo fundamental expandir o alcance e o impacto do banco. De um lado, ampliamos o número de países membros, fortalecendo nossa plataforma de cooperação. De outro, estamos financiando projetos-chave para o desenvolvimento. Do saneamento à infraestrutura social e digital."
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O Novo Banco de Desenvolvimento foi criado em 2014, na sexta conferência dos BRICS em Fortaleza, e tem um capital inicial autorizado de US$ 100 bilhões (cerca de R$ 490 bi).
Em outubro de 2022, o banco definiu que emprestará US$ 30 bilhões para apoiar o crescimento em geral e projetos de desenvolvimento sustentável dos países que financia durante um período de cinco anos.
40% desses empréstimos devem ser destinados a projetos de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Outras áreas importantes são energia limpa, infraestrutura de transporte, desenvolvimento urbano, gestão de recursos hídricos e saneamento e infraestrutura social e digital. Cerca de 30% dos empréstimos serão feitos nas moedas dos países integrantes do bloco.
O presidente Lula leu um discurso durante cerca de 15 minutos, em que afirmou que o "Novo Banco de Desenvolvimento reúne todas as condições para se tornar o grande banco do Sul Global". "Pela primeira vez, um banco de desenvolvimento de alcance global é estabelecido sem a participação de países desenvolvidos em sua fase inicial. Livre, portanto, das amarras das condicionalidades impostas pelas instituições tradicionais às economias emergentes. E mais: com a possibilidade de financiamento de projetos em moeda local."
Após ler o discurso, Lula tirou os óculos e se dirigiu ao público por mais 15 minutos, desta vez sem roteiro. O presidente contou que o banco surgiu do diálogo que mantinha com os mandatários da Rússia, China, Índia e África do Sul previamente às reuniões do G7, às quais os presidentes de economias emergentes eram convidados.
Nesse contexto, Lula foi ovacionado ao criticar a hegemonia do dólar na economia mundial e o papel das instituições financeiras internacionais comandadas pelo Norte Global.
"Um banco de desenvolvimento tem que ter mais funções e não apenas uma. Eu, toda noite, me pergunto por que todos os países estão obrigados a fazerem seu comércio lastreado em dólar? Por que é que nós não podemos fazer o comércio lastreado na nossa moeda?", disse Lula. "Um presidente não pode governar com a faca no pescoço", defendeu, em referência às condicionalidades impostas por instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI).
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As expectativas sobre a visita de Estado
Lula trouxe à China uma importante delegação com 19 deputados federais, sete senadores - incluindo o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco -, cinco governadores e sete ministros, entre eles Fernando Haddad, da Fazenda, Marina Silva, do Meio Ambiente e Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar. Também integram a comitiva representantes de centrais sindicais e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Uma das integrantes da comitiva foi a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que em conversa com o Brasil de Fato afirmou que a viagem é fundamental para os objetivos de reindustrialização do país.
"O Brasil precisa gerar um projeto nacional de desenvolvimento, o Brasil precisa agregar valor a sua industrialização, precisa gerar emprego. Então, o Brasil não pode se furtar a uma grande negociação e construção de acordos com um país como a China, que na fronteira da inovação e da ciência e tecnologia é um país que está à frente", disse a deputada.
Após a agenda na sede do Novo Banco de Desenvolvimento, Lula se dirigiu junto a uma parte da delegação para o centro de inovação da Huawei em Xangai. Entre os presentes estava o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), que está na China desde o fim de março, quando a visita de Estado foi cancelada devido a pneumonia leve do presidente.
Na semana passada, o governador assinou um Memorando de Entendimento com a empresa para expandir os acordos entre o estado e a gigante tecnológica em áreas que vão da educação à segurança pública.
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Lula ainda se reuniu com executivos da BYD, a fabricante de carros elétricos que chegou a superar a Tesla em vendas no ano passado, e com a China Communications Construction Company (CCCC), uma estatal chinesa gigante da infraestrutura.
Na sexta-feira (14), Lula e sua equipe ministerial se reunirão com o presidente da estatal de energia State Grid, Zhang Zhigang, uma das empresas que provavelmente fará parte dos grandes acordos que serão assinados.
A agenda continua com uma reunião com o presidente da Assembleia Popular Nacional da China, Zhao Leji, no Grande Salão do Povo, e uma cerimônia de deposição floral no Monumento aos Heróis do Povo, na Praça Tiananmen, a praça da Paz Celestial.
À tarde, antes do aguardado encontro com seu par Xi Jinping, Lula ainda se reunirá com representantes da Federação de Sindicatos de Toda a China e com o primeiro ministro da China, Li Qiang.
Edição: Nicolau Soares