Mobilização

Mais de 2 milhões de pessoas tomam as ruas da França contra aumento da idade de aposentadoria

Sindicatos indicam que mais de duas milhões de pessoas foram às ruas, governo afirma que foram 740 mil

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Torre Eiffel, Palácio de Versalhes e o Arco do Triunfo fecharam - Christophe Archambault / AFP

Mais de duas milhões de pessoas se manifestaram contra a reforma previdenciária francesa nesta terça-feira (28/03), conforme indicou a Confédération Générale du Travail (Confederação Geral do Trabalho, CGT). Dados do Ministério do Interior francês apontam que o número de manifestantes atingiu "apenas" 740 mil. As informações são do jornal francês Le Monde.

Esta terça-feira (28/03) marcou o décimo dia de mobilização contra a reforma que deve alterar a aposentadoria francesa. A Torre Eiffel, o Palácio de Versalhes e o Arco do Triunfo foram fechados, assim como o Louvre, que normalmente não abre ao público às terças-feiras. Também de acordo com o Le Monde, estavam planejados 150 comícios por todo o país.

As escolas de Ensino Médio também registraram paralisações - 53 incidentes no total, de acordo com o Ministério Nacional da Educação. No entanto, um sindicato estudantil do Ensino Médio, chamado FIDL, afirma que houve uma mobilização “histórica”, com 500 escolas de Ensino Médio paradas.

O trânsito também teria sido afetado logo cedo em pontos por todo o país: em Rennes, capital bretã, 400 pessoas interromperam a passagem na estrada a partir das 7h da manhã, havendo ao menos seis pontos de bloqueio, que resultaram em 45 km de engarrafamentos às 8h30. Situações similares foram registradas em Nantes e Caen.

Em Marselha, o dia começou com uma manifestação em frente ao hotel quatro estrelas Radisson Blu, no Porto Velho, organizada por uma centena de funcionários do setor de turismo francês e ativistas dos sindicatos CNT, Snuipp e Sud.

Gritando “turistas com a gente”, os manifestantes convidaram os clientes do hotel de luxo a contribuir com um fundo de greve posto em uma mesa em frente à porta.

Na mesma cidade, os lixeiros ainda não estão oficialmente em greve, mas o lixo já começou a se acumular em diversos bairros, de acordo com apuração da Agence France-Presse (AFP).

Na cidade de Le Havre, cerca de 50 pessoas bloqueavam o centro dedicado à purificação de água e gerenciamento de resíduos, impedindo que funcionários assumissem seus postos ou retirassem caminhões de lixo.

Manifestações começaram em Lille por volta das 8h, com protestantes se juntando no centro da cidade, depois marchando em frente ao Conselho Regional e da estação ferroviária.

Nantes foi uma das primeiras cidades a registrar confrontos entre a polícia e pessoas protestando contra a reforma previdenciária. Uma agência bancária foi incendiada e o tribunal administrativo também se tornou alvo, conforme apurado pela AFP.

Foi anunciado pela CGT do setor de resíduos e saneamento que a greve dos lixeiros parisienses seria suspensa. A suspensão do serviço provocava acúmulo de lixo nas ruas da capital francesa desde 6 de março.

“Precisamos voltar a dialogar com os agentes do setor de lixo e saneamento da cidade de Paris para voltarmos mais fortes à greve (...), porque quase não temos mais grevistas”, afirmou em nota o CGT-FTDNEEA, que reúne catadores de lixo, coletores de esgoto e caminhões caçamba da capital.

Ainda nesta terça-feira (28/03), no entanto, a coleta de lixo continuou interrompida. O volume total de resíduos não coletados atingiu sete mil toneladas, de acordo com a prefeitura.

Ao participar de uma manifestação em Paris, o antigo candidato à presidência francesa Jean-Luc Mélenchon afirmou que o país "não é levado a porretes".

Mélenchon ainda afirmou que "Este poder não quer nada, exceto forçar o seu texto". Ao mencionar a premiê Elisabeth Borne, disse que ela "nos deixa apenas a possibilidade de uma palavra de ordem: 'Deixar ela ir embora, ela e a sua reforma'".

Em Rennes, um protesto que reuniu 13,6 mil pessoas, segundo a prefeitura, foi marcado por mais confrontos com a polícia. Jovens vestidos de preto foram atingidos por canhões de água e gás lacrimogêneo.

Já em Toulouse, por volta das 16h, a polícia dividiu as ruas. Entre 400 e 500 black blocs foram atingidos por canhões de água. O prefeito, Pierre-André Durand, havia anunciado, durante a manhã, a mobilização de 450 policiais para os protestos.

Paris registrou uma marcha pacífica, com pouca presença da polícia, entre às 14h30 e 15h45. Nela, de acordo com o Le Monde, era possível enxergar cartazes com escritos como "ACAB" (All Cops Are Bastards, Todos Os Policiais São Bastardos).

Segundo a AFP, a CGT contabilizou 450 mil manifestantes na capital francesa, enquanto o número divulgado pela polícia da cidade foi de 93 mil pessoas. Ainda de acordo com as autoridades, 22 prisões foram feitas.

Em Lyon, foram registrados incidentes como danos a estabelecimentos comerciais. A polícia respondeu com gás lacrimogêneo e um lançador de água, utilizado quatro vezes. A polícia fez quatro prisões.

Os sindicatos já anunciaram que a próxima grande mobilização no país será no dia 6 de abril, uma quinta-feira.