Mobilização

Macron tenta igualar manifestantes contra reforma da Previdência com extrema direita

Professora da Universidade de Sorbonne afirma que Macron teve fala "provocadora", mas enfretará união sindical

São Paulo (SP) |
Protesto contra o aumento da idade de aposentadoria em Paris no dia 7 de março - Jean-Francois Monier / AFP

Para o presidente da França, Emmanuel Macron, há uma relação entre os manifestantes que se opõem ao aumento da idade de aposentadoria no país e movimentos de extrema direita nos Estados Unidos e no Brasil. A declaração foi feita após Macron usar um mecanismo da Constituição para reformar a Previdência sem passar por votação na Câmara dos Deputados.

Em entrevista aos canais de televisão franceses France 2 e TF1, o presidente francês condenou o que chamou de "extrema violência" nas mobilizações que se opõem ao aumento da idade de aposentadoria de 62 para 64 anos.

"Quando os Estados Unidos passaram pelo que aconteceu no Capitólio, quando o Brasil [no 8 de janeiro] passou por isso, quando houve extrema violência na Alemanha ou na Holanda, ou conosco [na França] no passado. Devemos dizer que nós respeitamos, nós ouvimos, nós queremos fazer o país avançar – e por isso que quero discutir essa reforma –, mas não podemos aceitar facções", declarou Macron.

O artigo 49.3 da Constituição francesa, estabelecido em 1958 durante o governo de Charles de Gaulle, permite que o Executivo aprove um projeto de lei sem que ele passe pela Assembleia Nacional. O mecanismo foi usado por Macron para aprovar a medida que é rejeitada pela maior parte da população.

Moradora de Saint-Denis e professora na Universidade Sorbonne Paris Nord, Silvia Capanema afirma em entrevista ao Brasil de Fato que a fala de Macron foi "provocadora" e rejeitada pela sociedade francesa. A historiadora ressalta que enquanto tenta estigmatizar a mobilização popular, o presidente francês usou uma ferramenta para passar por cima do Congresso.

"É uma tática da direita de associar a esquerda com a extrema direita e dizer 'eu sou o campo democrático'", diz Capenema.

A professora ainda ressalta que está prevista uma nova rodada de protestos e marchas para a quinta-feira (23) e que a mobilização está forte, com destaque para a greve dos garis de Paris, que deixou as ruas da capital repletas de lixo e garantiu espaço na televisão para representantes sindicais da categoria que até então era vista como "invisível".

A historiada da Universidade Sorbonne Paris Nord ainda destaca que Macron enfrentará uma união de diferentes sindicatos que não é comum no cenário político nacional da França. Ainda assim, Capanema afirma que a maior força do movimento são as mobilizações de rua, já que a população resiste em fazer grave por conta da disparada da inflação.

“Ainda que as greves não sejam o mais forte desse movimento, o mais forte foi realmente a mobilização na rua. Porque estamos com uma inflação grande, custo de vida muito alto, então os trabalhadores estão hesitando muito em fazer greve.  Realmente a dificuldade financeira é grande na França", diz. 

Edição: Patrícia de Matos