Dez jovens brasileiros chegaram em Cuba no final de fevereiro com um sonho: estudar medicina com o objetivo de ajudar suas comunidades. Foi a primeira vez que a maioria deles deixou o Brasil para conhecer outro país. Eles receberam bolsas de estudo para a prestigiosa Escola Latino-Americana de Medicina (ELAM), na capital Havana.
Os jovens são os primeiros brasileiros a estudar na ELAM em oito anos e são de famílias camponesas ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).
"Eu quis estudar medicina porque sinto que em nossos acampamentos há uma grande falta de saúde e quero ajudar a levar saúde aos mais necessitados", afirma Sofia Rodrigues da Costa, do estado do Maranhão, ao Brasil de Fato.
Da mesma forma, Luiz Henrique da Silva Parteck, do estado do Paraná, diz que quer estudar medicina porque na região onde mora há uma grande carência de cuidados de saúde para as comunidades.
O que é a Escola Latino-Americana de Medicina?
A Escola Latino-Americana de Medicina (ELAM) foi criada em 1999. Naquela época, a região do Caribe foi atingida pelos furacões George e Mitch, que causaram mais de 10.000 mortes. Cuba então decidiu enviar médicos para os países afetados para ajudar no desastre. Mas também decidiu construir uma universidade médica com o objetivo de formar profissionais dos países afetados.
Através de um sistema de bolsas de estudo destinadas a permitir aos jovens de poucos recursos econômicos estudar medicina gratuitamente, a escola recebeu centenas de estudantes do Caribe. Com o passar do tempo, o projeto se estendeu a diferentes regiões do mundo e alunos de outras regiões da América Latina, dos EUA e da África chegaram.
Atualmente, há muitas razões pelas quais jovens de diferentes partes do mundo decidem estudar medicina em Cuba. Uma das mais importantes tem a ver com a abordagem humanista da medicina na ilha.
"Cuba sempre teve a reputação de que a saúde é muito boa e que o sistema é muito humano e não muito comercial. E eu vim aqui e percebi que este é o caso", conta ao Brasil de Fato a chilena Ailin Sofie, no segundo ano de sua graduação em medicina. “Com cada um deles há uma relação entre médico e paciente que eu nunca tinha visto antes. No Chile isso não existe, e acho que é algo que todos os países deveriam aplicar".
Muitos estudantes tiveram algum contato com médicos cubanos em seus países de origem, o que os incentivou a decidir estudar medicina na ilha. Este é o caso de Yofri Salvadoro, de Burkina Faso — um país africano que foi colônia da França.
"Queria vir aqui porque há sempre uma diferença entre os médicos cubanos e os médicos do meu país em termos do cuidado que eles dão aos pacientes. Porque o que mais ajuda o paciente a se recuperar às vezes é o atendimento médico", avalia Salvadoro.
Atualmente, os países com mais estudantes em programas de educação médica em Cuba são Palestina e Colômbia. No caso da Palestina, isto se deve à ajuda que Cuba oferece diante da ocupação ilegal do território palestino por parte de Israel.
Já o grande número de estudantes colombianos é explicado pelo acordo de paz assinado entre o governo da Colômbia e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). No mecanismo que estabeleceu que o grupo armado deixaria a luta armada e se transformaria em um partido político, foi estabelecido que a ELAM receberia jovens das áreas afetadas pela violência. O objetivo era proporcionar a eles uma formação profissional para sua reintegração social.
A ELAM já formou 30,7 mil médicos de quase 120 países diferentes. Destes, mais de mil graduados da ELAM são brasileiros.
Edição: Thales Schmidt