Na última semana, moradores do bairro Jardim Catarina, em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, vivenciaram um cenário de guerra em decorrência do conflito armado na região. Com a escalada de violência, tiroteios, sequestros de ônibus e barricadas improvisadas nas vias passaram a fazer parte da rotina de motoristas e passageiros.
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A circulação dos transportes municipal e intermunicipal chegou a ficar suspensa por dois dias. Em longo prazo, os efeitos da violência dão sinais na saúde física e mental dos trabalhadores do setor.
Um levantamento do Sindicato dos Rodoviários de Niterói a Arraial do Cabo (Sintronac) revela que a violência urbana em áreas conflagradas é a principal causa de afastamento de rodoviários. Em 2022, houve um aumento de 323 atendimentos em relação ao ano anterior no setor de neuropsiquiatria e psicologia do sindicato.
Somente no ano passado, 4.321 trabalhadores com problemas psicológicos foram atendidos pelo departamento médico. Deste total, de acordo com a Sintronac, cerca de 90% foram vítimas de assaltos, agressões, sequestros de veículos, intimidações, ou ficaram encurralados em tiroteios.
Há casos em que motoristas chegaram a testemunhar crimes, inclusive homicídios. Atualmente, 500 rodoviários estão afastados dos seus postos em tratamento permanente, sem condições de retorno às atividades profissionais, segundo o Sintronac.
"Não somos super-heróis, mas apenas trabalhadores, que lutam diariamente para garantir o sustento de suas famílias e, por isso, merecemos voltar para casa em pleno estado físico e mental”, defendeu o presidente do Sintronac, Rubens dos Santos Oliveira.
Segurança pública
A entidade sindical esteve em reunião com o secretário de Estado da Polícia Militar, coronel Luiz Henrique Marinho Pires, na última segunda-feira (6), para discutir medidas de proteção aos rodoviários, principalmente para os profissionais que atuam em São Gonçalo. O objetivo é estabelecer um programa de cooperação entre a instituição e as forças de segurança para proteger os trabalhadores.
Rodoviários que atuam em linhas no Jardim Catarina afirmaram que esta semana não ocorreram sequestros de ônibus e os coletivos estão funcionando normalmente no bairro. Isso porque, com informações do Disque Denúncia, policiais prenderam um traficante conhecido como "MG" na última segunda-feira.
Ele seria um dos responsáveis pelo sequestro de 23 ônibus, usados como barricadas em ruas da localidade para impedir operações policiais. Uma moradora, que prefere não se identificar, relatou ao Brasil de Fato que apesar da volta à "normalidade", a população continua receosa com relação à segurança pública.
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"Tinha troca de tiros de manhã, à noite, os bandidos sequestraram ônibus para fazer barreira e a polícia não entrar. As duas empresas que fazem a circulação por São Gonçalo e Niterói retiraram os ônibus da garagem. Isso dificultou muito a nossa vida, impedindo nosso ir e vir. Quem não tivesse carro para buscar até certo ponto precisava ir andando. Minha afilhada grávida precisou ir a pé", contou.
"Aqui só entra Uber quando é o próprio morador que faz porque as pessoas ficam com medo e com razão, correndo risco de serem vítimas de bala perdida. Ficamos receosos", afirma a moradora que depende do transporte intermunicipal para trabalhar em Niterói.
A região do Jardim Catarina é dominada pela facção "Comando Vermelho" de acordo com o "Mapa dos grupos armados do Rio de Janeiro", projeto do Fogo Cruzado e do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (GENI/UFF).
A assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar não respondeu sobre as medidas de segurança no Jardim Catarina e a parceria com o sindicato dos rodoviários até o fechamento desta reportagem. O espaço segue aberto para a manifestação do órgão.
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Jaqueline Deister